Não é só a febre de recalls de carros que tem atormentado a vida de consumidores nos Estados Unidos, Europa e mesmo Brasil. Grandes grupos fonográficos, como a EMI e Time-Warner, vêm mostrando uma incrível disposição para levar à ira um batalhão de fãs de música, que compram desde CDs com faixas inaudíveis até discos com músicas literalmente repetidas. O caso mais recente é o álbum David Bowie at the Beeb, lançado no último dia 22 no exterior. O trabalho, com três CDs, é uma coletânea de gravações do cantor para a rádio BBC e o erro fatal foi a inclusão de duas faixas idênticas. Ou seja, os consumidores deveriam levar versões diferentes da canção Ziggy Stardust, mas ficaram com duas gêmeas. A EMI imediatamente se dispôs a enviar um CD com a versão que faltava para quem reclamasse dos problemas. Mas amargará um prejuízo, não divulgado ainda, que sem dúvida ajuda a debilitar a situação da gravadora inglesa, que apesar do lucro de US$ 200 milhões em 12 meses, sofre dificuldades econômicas.

A Warner Music, que também passa por maus bocados e tentou sem sucesso uma união à EMI, também tem provocado boas dores de cabeça nos seus clientes. No início do ano, uma caixa especial da cantora canadense Joni Mitchell trazia cópias danificadas do CD ?Both Sides Now?. Seguindo a tradição americana de atendimento ao consumidor, a gravadora trocou todos os discos defeituosos que os consumidores enviassem pelo correio. Atrapalhou seus clientes e dificultou uma melhora no seu desempenho, depois de um faturamento estagnado em cerca de US$ 300 milhões entre 1998 e 1999. No Brasil, a situação é pior, pois a política de reposição de CDs defeituosos não progride muito. O álbum duplo E-Collection, do grupo Ira!, por exemplo, foi lançado há dois meses pela Warner com falhas na leitura. ?Um dos CDs simplesmente parava de tocar para depois voltar ao normal?, afirma o lojista Sebastião Calanca. ?A gravadora recolheu cópias defeituosas, mas as novas tinham o problema apenas amenizado?. A Warner não comentou o assunto. Quem tem pago o pato é o consumidor e os lojistas. ?Temos de suportar a ira dos clientes?, diz Calanca. Literalmente.