Um primeiro comboio de ônibus levando rebeldes sírios e suas famílias deixou, neste sábado (24), o penúltimo enclave em seu poder na região de Ghuta Oriental, próxima de Damasco, de onde mais de 100 mil civis fugiram desde o começo de uma violenta ofensiva do regime.

“Dezessete ônibus que transportavam 981 pessoas, incluindo combatentes e suas famílias, abandonaram a cidade de Arbin com destino à província de Idlib”, no norte, relatou a agência oficial Sana.

Após a revista das pessoas evacuadas, elas foram acompanhadas por um soldado russo encapuzado em cada ônibus, enquanto os membros da Cruz Vermelha síria distribuíam comida. A operação foi diretamente supervisionada pelos russos.

Após incessantes bombardeios aéreos do regime, com a ajuda da Rússia, dois dos três grupos insurgentes presentes em Ghuta aceitaram deixar suas posição e ir para Idlib, última província nas mãos dos rebeldes.

Ghuta Oriental, uma região a leste da capital de onde rebeldes bombardeiam regularmente posições do governo, tinha cerca de 400 mil habitantes antes do começo da ofensiva, em 18 de fevereiro.

Em pouco mais de um mês, mais de 1.600 civis morreram, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que ainda contabilizou 485 soldados do regime mortos e 310 rebeldes.

As evacuações, que devem continuar durante o domingo e vão afetar 7 mil pessoas, são fruto de um acordo entre o grupo islamita Faylaq al Rahman e a Rússia, aliada do governo de Bashar al Assad.

A operação, que afeta as cidades de Arbin, Zamalka e Ain Tarma, na zona sul de Ghuta Oriental, bem como partes do bairro de Jobar, em Damasco, teve um atraso de várias horas neste sábado para poder abrir passagem entre “as minas espalhadas por terroristas na estrada que leva à cidade de Arbin”, segundo a Sana.

O acordo de evacuação incluía, entre outras condições prévias, a libertação de reféns em poder dos rebeldes. A televisão síria divulgou neste sábado imagens de um ônibus transportando oito passageiros libertados pelos insurgentes.

Na manhã deste sábado, aproveitando um cessar-fogo, civis saíram às ruas devastadas de várias cidades da região, em muitos casos pela primeira vez em semanas.

Entre os evacuados, estava Mohamad, de 20 anos. “Meu pai morreu em um bombardeio. E não pudemos tirar seu corpo dos escombros para enterrá-lo”, lamentou à AFP.

“Estamos indignados de ter que deixar Ghuta, de ter abandonado nosso lar, a cidade onde sempre vivemos”, indignou-se Abu Jaled, combatente de 28 anos.

Um porta-voz do grupo rebelde tinha justificado a evacuação anteriormente pela “situação humanitária catastrófica” no enclave, onde faltam alimentos e medicamentos.

“Agora podemos dormir em paz, a vida vai ser retomada”, comemorou neste sábado Simon Merei, de 32 anos, morador de Damasco.

Contudo, neste sábado caíram bombas sobre a zona esportiva de Al Feyhaa em Damasco, causando a morte de um jovem e deixando sete feridos, segundo uma fonte policial.