Não foi fácil chegar ao Brasil em janeiro passado, em plena pandemia, para disputar um mercado de 11,2 milhões de celulares no primeiro trimestre de 2021, um crescimento de 3% comparado a 2020, segundo o IDC. E querer para si uma fatia desse cenário, com uma Samsung ocupando 22% do recheio. Isso fez com que a novata chinesa Realme (a empresa usa caixa baixa na grafia da marca) focasse em seus ideais mercadológicos, sem desvios. “O cenário brasileiro é dominado por poucas marcas e isso cria uma espécie de estagnação. Enxergamos uma oportunidade para quebrar isso, dando mais opções e melhor custo-benefício”, disse à DINHEIRO o CEO da empresa, o indiano Madhav Sheth. O momento acabou sendo propício: em maio, a LG anunciou sua saída do mercado de smartphones — um pedaço que todos querem, principalmente a Xiaomi, a concorrente mais próxima da Realme nos celulares mais simples. A empresa não revela o que alcançou neste pouco tempo no País, mas globalmente está entre as principais concorrentes dos ditos celulares de entrada, com preços atrativos.

DINHEIRO conversou com especialistas em mobile no Brasil e é quase unânime a opinião de que, para uma faixa de consumidores de um país emergente, o produto da empresa chinesa é notável. Um modelo C25, mais simples, tem bateria de 6 miliampère, que pode durar dois dias — quem não quer isso? O carregador é de 18W, que preenche a pilha verdinha bem rapidamente. Ele tem processador Lux 70 da Mediatek, ainda em crescimento no mercado, mas que é apresentado pela Realme como um “game processor”, numa clara sedução ao público jovem. Ele tem câmera para competir com a Apple e Samsung? Bem, o C25 tem câmera de 48 megapixels, mas a pegadinha é que a lente é pequena. Então, pura e simplesmente: não. Tudo isso para dizer que nesse mercado é preciso saber quantizar público, poder aquisitivo e produto. E é o que a empresa está fazendo.

UM PASSO ALÉM Durante a Mobile World Congress este ano, na Espanha, a companhia lançou o novo carregador de 150W, o mais rápido comercializado até o momento. “E claro que notamos a forte demanda de jovens usuários, que são ignorados por muitas marcas. Já nós queremos ajudá-los nessa ostentação”, afirmou, com humor, o CEO. E a Realme quer ir além, com um modelo que os especialistas colocariam no mesmo patamar de um Galaxy S22 Plus 5G . “Vamos trazer logo mais para o Brasil o GT 2 Pro para mostrar ao público nossa visão de aparelhos premium”, disse o CEO da empresa que já lançou o Realme 9i. Agora o executivo quer consolidar posição e crescer localmente, “para nos tornarmos uma marca Top 5 e mais adiante, Top 3.”

“Nosso modelo de negócios não depende de olharmos individualmente para os concorrentes. Focamos em inovação, mais valia, preço justo e itens que realmente importam para os consumidores” Madhav Sheth, CEO da Realme.

A estratégia é falar diretamente com os usuários, com lojas próprias na Amazon e Mercado Livre, por exemplo. Além do papo de comunidade, o 5G é outro assunto preferido pela chinesa. “Nossos modelos 7 5G foram todos comprados na pré-venda.” A marca tem três aparelhos 5G disponíveis no Brasil — mesmo antes de implementação da tecnologia que só chegará a todas as capitais em julho de 2022. Será um novo cenário no País. “O 5G é transformativo onde quer que vá.”

Nos próximos dois anos, serão cerca de US$ 300 milhões investidos em pesquisa e desenvolvimento pela Realme no 5G globalmente. E na briga com a Apple e Samsung, Sheth garante que em uma mesma faixa de preço, oferecem algo melhor. “Como grandes e expansíveis HDs, mais RAM e carregamento rápido”, disse. Além disso, garante o executivo, a empresa usa biomateriais que reduzem em mais de 30% as emissão de CO2.

E o antigo preconceito de produtos feitos na China? “Essa noção é antiga, mas não é mais assim no mundo” afirmou Sheth. Segundo o executivo, as marcas chinesas capturaram uma fatia de mercado de quase 50% das vendas globais de smartphones. Na América Latina, cresceram rapidamente, ultrapassando um terço do mercado no último trimestre de 2021. “Isso mostra a confiança do público nas marcas chinesas.”

A estimativa da Realme é abocanhar 10 milhões de usuários no continente em 2022. Sheth não diz se já atingiram 50% ou mais disso, mas o cenário desejado é chegar ao disputadoTop 3. “Sempre acreditamos que bons produtos contam melhores histórias do que o marketing. E o Brasil é um país que apresenta claros sinais de transformação”, afirmou um CEO bastante otimista.