Reconquistar o prestígio dos bons tempos, quando foi a gravadora de artistas tão famosos quanto Enrico Caruso, Frank Sinatra, Elvis Presley, Duke Ellington, David Bowie e Carmen Miranda, é a dura tarefa que a RCA Victor tem pela frente. Dono do selo desde 1986, o conglomerado alemão Bertelsmann Music Group (BMG) acaba de iniciar uma campanha mundial para rejuvenescer o nome de um de seus mais ambiciosos negócios. Uma tarefa nada simples, já que a RCA está tentando sair de uma séria decadência que amargou entre o final dos anos 80 e meados da década de 90. A crise foi tão grave que a companhia acabou cindida em duas empresas, sendo que a divisão de equipamentos de áudio e vídeo passou para as mãos da francesa Thomson, fabricante de equipamentos de som e vídeo. Na RCA discos, houve até problemas em conseguir um executivo de prestígio para tirar o pó que encobria a empresa. ?Recebi três vezes o convite da BMG para dirigir a RCA e recusei. A empresa precisava de uma tremenda reestruturação e eu estava muito bem no trabalho que realizava no Canadá?, declarou o executivo Bob Jamieson à revista americana Billboard. Jamieson acabou por aceitar o cargo de presidente do conselho depois, em 1996. Mas o estigma de que a marca estava envelhecida era um fato, e os funcionários estavam desmotivados. O catálogo do selo tinha muitos artistas famosos, porém era fraco em novidades. Ou seja, um inferno para uma empresa que deve enfrentar a hiperconcorrência da indústria mundial de discos, que fatura por volta de US$ 37 bilhões anuais e tem companhias tão ameaçadoras como a Universal e a Sony.

Os alemães da Bertelsmann, um conglomerado de jornais e revistas, editoras de livros e emissoras de rádio e televisão que fatura US$ 14,5 bilhões anuais, deu carta branca para Jamieson efetuar as mudanças que quisesse. Em primeiro lugar, criou-se um programa de estímulo aos empregados, incluindo até a premiação para aqueles mais dedicados, sem levar em conta a hierarquia. Enquanto isso, a diretoria ia em busca de novos talentos. Contrataram bandas de rock e jazz como o Foo Fighters e a Dave Matthews Band, que possuem um bom prestígio atualmente. No Brasil, houve esforços para conquistar bandas populares, como Só Para Contrariar, ao mesmo tempo em que garantia contratos com artistas como Chico Buarque.

A estratégia deu relativamente certo. Apesar de não abrir os números da participação dos seus selos ? possui também marcas como Arista e Ariola ? na receita de US$ 4 bilhões que fatura em música, o presidente mundial da Bertelsmann, Rolf Schmidt-Holtz, garante que a RCA é a principal responsável pelas vendas nesse segmento do conglomerado. Agora, a expectativa é que todo o trabalho de reestruturação comece mesmo a dar frutos em 2002. A Bertelsmann tem até forçado a barra para levantar a RCA Victor: criou o mote publicitário de 100 anos da marca, sendo que em 1901 houve apenas a incorporação da empresa Victor Talking Machine pelo norte-americano Eldridge Johnson, empresário bem-sucedido na produção de discos. A companhia passou para as mãos da RCA em 1929. Nessa história toda, o que está em jogo é a recuperação do prestígio e da fama que o clássico logotipo do cachorro-mascote Nipper ouvindo um gramofone, baseado num quadro do inglês Francis Berreaud de 1885, teve ao longo de décadas. A própria RCA admite que uma de suas prioridades é conquistar novos artistas, o que ajudaria a rejuvenescer sua imagem. Afinal, na indústria de diversão, o que é moda hoje pode virar peça de museu em segundos.