O Fundo Monetário Internacional deverá ganhar um sotaque latino e um profundo conhecedor da economia brasileira. Rodrigo Rato, ex-ministro das Finanças da Espanha, deverá ser o novo diretor-gerente do FMI, em substituição a Horst Köhler, candidato à presidência da Alemanha. O nome do espanhol era, de longe, o favorito na disputa prevista para se encerrar neste fim-de-semana em encontro do FMI, em Washington. Rato concorreu com Stanley Fischer, ex-vice-diretor do FMI, Mohamed El-Erian, dos fundos de investimentos Pimco e Andrew Crockett, do banco JP Morgan. Chegou-se até a especular o nome do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Mas, ao final, a disputa se concentrou entre Rato e o francês Jean Lemiérre. Lemiérre era apoiado pela França e Alemanha, mas o espanhol ganhou a simpatia dos EUA e de outros países da União Européia. Tornou-se também o predileto de países da América Latina, em particular do Brasil. ?Fui apoiado pelos países de língua portuguesa?, disse Rato, na quarta-feira 21.

A simpatia brasileira se deve ao fato de Rato não só conhecer bem o País como ter manifestado apoio ao ministro Antônio Palocci. Rato foi ministro de Finanças do governo José Maria Aznar no período de maior investimento espanhol no Brasil. Em seu mandato, empresas como Telefônica, Santander e Iberdrola apostaram forte no País. Rato já declarou publicamente apoio à política econômica brasileira e fez críticas à da Argentina. ?Ele conhece mais o Brasil do que qualquer outro europeu?, diz Valder de Góes, cientista político e presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos. A esperança do governo brasileiro é que Rato acate o pedido para o FMI mudar as regras de cálculo do déficit público. Brasília quer tirar da conta os investimentos de estatais, mas encontra resistência na atual diretoria do Fundo. ?Como conhece bem a economia brasileira, Rato tem condições de avaliar uma revisão das metas com o FMI?, diz Góes.

Ação preventiva. Rato ainda não se manifestou publicamente sobre o pedido brasileiro, mas já adiantou alguns de seus planos à frente do FMI. É a favor do socorro preventivo a países ameaçados de crise financeira, como ocorreu com o Brasil em 1988. Alguns países europeus chegaram a questionar esses desembolsos milionários do Fundo. Queriam dificultar a vida dos países com problemas financeiros para que eles executassem políticas mais ortodoxas de controle das finanças públicas. Rato discorda da falta de socorro aos países em crise e defende a intervenção preventiva. ?Não basta simplesmente resolver o problema depois de instalado?, afirmou Rato. ?Penso que a antecipação, a análise e os avisos (para evitar as crises) devem ser um dos nossos principais objetivos nos próximos anos.?

A se julgar pela história do ex-ministro espanhol não se deve
esperar surpresas radicais. O advogado e empresário Rato, com
pós-graduação na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos
EUA, marcou sua administração na Espanha com uma atuação típica de um economista liberal. Em seus oito anos de mandato, conseguiu
bons resultados econômicos. A Espanha equilibrou as contas pú-
blicas e cresceu mais do que o resto da Europa. Seus críticos
dizem, porém, que o desemprego na Espanha também é mais alto
do que no resto do continente. Para os latinos, Rato é lembrado
como um dos principais interlocutores com o G-7, o grupo dos
sete países mais ricos do mundo.

O apoio dos americanos, segundo os analistas, se deve mais ao atual momento político internacional do que a uma clara preferência pelo espanhol. Em primeiro lugar, os EUA querem evitar uma disputa entre europeus para o FMI, como ocorreu na eleição passada. Além disso, alguns especialistas acham que se trata de um modo de Washington retribuir o apoio do governo Aznar à guerra no Iraque. ?A decisão de apoiá-lo não foi unânime nos EUA e ele deve ser bastante fiscalizado em seu mandato no FMI?, diz Cláudio Lucinda, professor de Economia do Ibmec. O professor está entre os que não acreditam em mudanças no FMI no tratamento dos países emergentes. ?Como o espanhol tem fama de ser mais relaxado, ele terá de ser duro para ganhar credibilidade. Se fosse um suíço ou um alemão, talvez fosse mais fácil?, diz Lucinda. A partir de maio, Rato começará a mostrar como será o primeiro mandato de um espanhol na direção do FMI.

PAPEL CHAVE NAS
CRISES FINANCEIRAS
O QUE ESTÁ EM JOGO
? O mandato de Horst Köhler acabaria em maio deste ano,
mas ele saiu para se candidatar à presidência da Alemanha
? Serão escolhidos o novo diretor-gerente e seu
vice, indicados para mandatos de cinco anos

O SUCESSOR
Rodrigo Rato
? Espanhol
? 55 anos
? Advogado
? Pós-graduação na Universidade
da Califórnia, em Berkeley, nos EUA
? Ex-ministro das Finanças da
Espanha no governo de José Maria Aznar
? Contou com o apoio dos EUA, da maioria dos
países europeus e principalmente dos latino-americanos

COMO FUNCIONA O FMI
? Membros: 184 países
? Funcionários: cerca de 2.700
?Capital: US$ 296 bilhões
?Empréstimos: US$ 107 bilhões a 56 países
?Maior acionista: Estados Unidos, com 17,5% das cotas