A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, disse, na manhã desta segunda-feira (11), que o debate sobre o direito à água deve ser prioritário no Brasil, frente às crises hídricas que o País enfrenta, e que os agentes da lei devem elevar as sanções pessoais e financeiras para quem descumpre as normas que protegem águas fluviais.

Para Raquel Dodge, a crise hídrica também se origina dos problemas de falta de saneamento, que dependem de políticas públicas de qualidade para serem resolvidos. “Este debate é essencial para o Ministério Público”, disse Raquel. A Procuradora fez o discurso durante a abertura do Seminário “Água, Vida e Direitos Humanos”, organizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do qual Raquel é presidente.

“O Brasil vive a sua pior crise hídrica. A seca não é novidade, mas a novidade é não haver água potável onde anteriormente havia”, afirmou a procuradora-geral, completando que o tema é cada vez mais urgente porque a água doce vem se tornando mais cara, controlada e inacessível.

Durante sua fala, Raquel também destacou que a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (MPF) lançou no final de novembro o projeto “Amazônia Protege”, que visa ajuizar cerca de 1.200 ações civis públicas para punir quem desmata áreas superiores a 60 hectares na Floresta Amazônica.

De acordo com Raquel, na primeira semana do programa, 750 ações já foram ajuizadas. “Isso significa uma proteção concreta para a floresta, significa a punição dos desmatadores, significa tornar mais próxima da data do desmatamento a sanção que couber”, afirmou a Procuradora.

Impunidade

Para apresentar o projeto sobre a Amazônia, Raquel apontou casos como o rompimento da barragem em Mariana (MG), que “destruiu o quinto rio mais importante do Brasil, o Rio Doce”. O acidente, para a procuradora, deve ser encarado como sinal de que as leis e os aplicadores de direito devem elevar as sanções pessoais e financeiras para quem descumpre as normas que protegem águas fluviais. “A sanção não pode demorar, para que não cresça a desconfiança da Justiça e o sentimento de impunidade”, afirmou a Procuradora.

Raquel apontou que, entre as principais causas humanas para crise hídrica estão o desmatamento e a exploração imobiliária que destrói áreas de preservação permanente. “Isso erode o solo e diminui o volume de águas fluviais”.

Em seu discurso de abertura do seminário, Raquel também frisou a questão da água como direito humano. A procuradora salientou que este direito não está suficientemente compreendido e estudado, tendo o evento este papel principal de discussão. “A lei tem regulado aspectos como a propriedade e uso da água, mas não garante o direito mínimo a ela. Precisamos refletir se há sentido que as leis estabeleçam o direito humano à água”, completou a Procuradora.

O Seminário “Água, Vida e Direitos Humanos”, com programação até esta terça-feira, 12, no CNMP, quer debater os riscos socioambientais na utilização dos recursos hídricos no Brasil e no mundo, e conta com a participação de estudiosos e especialistas nacionais e internacionais sobre o tema.

Nesta manhã de segunda-feira (11), junto de Raquel Dodge, também falaram outros membros do Ministério Público (MP) e da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Também presente, o Secretário Nacional de Justiça, Rogério Galloro, afirmou que a crise hídrica já chegou ao Distrito Federal e faz as autoridades sentirem pessoalmente o racionamento. “A má gestão hídrica e a corrupção afetam um direito humano fundamental, que é o direito à água”, afirmou o secretário, que tomou posse do cargo em novembro deste ano.

Quem também relacionou os temas da crise hídrica com os problemas de corrupção foi o Diretor-Geral da Escola Superior do Ministério Público da União, Carlos Henrique Martins Lima. “Importante que essa pauta (da corrupção) seja passada a limpo. A água vem sendo mal distribuída, possuída, e distribuída desigualmente para população, e isto tem tudo a ver com a corrupção”, afirmou Lima.