Um Fusca usado e muita disposição. Só. Foi assim, no final dos anos 60, que os irmãos Marcos e Jader Ramos deram início àquela que seria uma das maiores redes de material de construção do Nordeste, a pernambucana Comercial Ramos. A dupla chegou a montar lojas em Salvador e São Paulo e sonhar com a expansão nacional. Mas o império ruiu, vítima de divergências entre os irmãos. Hoje se resume a uma unidade, em Salvador, tocada por um sócio minoritário de Marcos. Os irmãos agora tentam uma virada. Jader partiu para a Nova Economia. Montou o portal de turismo HTL Online e está desenvolvendo softwares para gerenciamento de reservas e administração de hotéis. Marcos optou pela área industrial. Neste momento, acerta os últimos detalhes para instalação de uma fábrica de cerâmica e porcelanato no complexo industrial de Suape, em Recife. A montagem da fábrica, cujo sócio é a espanhola Pamesa, irá consumir US$ 25 milhões. ?Deveremos estar faturando R$ 70 milhões já no primeiro ano de operação?, entusiasma-se Marcos.

Pessoas próximas aos irmãos Jader e Marcos garantem que, apesar de o primeiro estar investindo na promissora Internet, o faro do segundo para os negócios sempre foi mais apurado. A opção pelo porcelanato dá uma idéia do estilo de Marcos. Em 1991, quando ele e seu filho Júnior participavam de uma feira de material de construção em Chicago (EUA), foram apresentados à linha Pamesa e fizeram algumas encomendas para as lojas da Comercial Ramos. O porcelanato caiu no gosto do mercado brasileiro e os pedidos cresciam mês a mês. Marcos, claro, fazia questão de apresentar os excelentes resultados aos parceiros estrangeiros. Não demorou para que viesse um convite da Pamesa: nomear o empresário pernambucano como representante exclusivo no Brasil. A partir daí, os laços se estreitaram até a decisão de montar a fábrica em Recife.

A aposta é arriscada, já que a demanda está muito concentrada nas mãos de clientes corporativos em função do elevado preço. ?O risco é o tempero de qualquer negócio?, filosofa Marcos. Ele diz que a unidade também irá produzir a cerâmica convencional, para conquistar o varejo tradicional. O dia-a-dia da fábrica será gerido por executivos recrutados no mercado. Ao filho Júnior caberá a supervisão do negócio. Aos 55 anos, Marcos, que consome boa parte de seu tempo na ponte Recife?São Paulo, pretende, aos poucos, sair de cena para dar vez à nova geração, a que Marcos chama de ?novos Ramos?.

A migração da família Ramos para a Indústria coloca um ponto final numa história de 30 anos escrita atrás de balcões e dentro dos galpões do comércio atacadista nordestino. Hoje, o que sobrou da tradicional Comercial Ramos pode ser imaginado ? em escala reduzida ? na loja de Salvador. Em Recife, mais precisamente no bairro de São José, onde Marcos montou a primeira loja, raros são aqueles que se lembram da rede dos irmãos Ramos. Mas isso, ao contrário do que se possa imaginar, não tira o sono do empresário Marcos. Prático e dono de uma visão moderna dos negócios, ele simplesmente diz que a Comercial Ramos teve o mesmo destino de outras empresas familiares. ?Não há espaço mais para o grupo do ?eu sozinho??, afirma. ?Por isso, me uni aos espanhóis.?