O inglês Jim Waller, 39, nunca provou o melão produzido no Vale do Rio São Francisco. Ao fazer compras no supermercado, só leva a fruta se a embalagem mostrar que o produto veio diretamente das plantações da Costa Rica. A atitude não seria uma grande dor de cabeça para os produtores brasileiros não fosse o fato de Waller ser ? além de um típico consumidor inglês ? um dos responsáveis pela compra de frutas da Safeway, terceira maior rede de supermercados da Inglaterra. Foi para quebrar a resistência de pessoas como Waller que todos os produtores brasileiros decidiram se unir e lançar na quarta-feira, 14, em Londres, uma grande ofensiva ao mercado europeu. Com estandes nas redes Safeway e Tesco, a primeira no Reino Unido, eles promoveram sessões de degustação usando, pela primeira vez, uma marca única, a Brazilian Fruit.

A estratégia de pegar o consumidor europeu pelo estômago foi a primeira de uma série de três mil que será feita ao longo dos próximos três meses em lojas no Reino Unido, França e Alemanha. A campanha de R$ 12 milhões está sendo financiada pelos produtores e pela Agência de Exportacões, a Apex, órgão vinculado ao governo e ao Ministério da Agricultura. A idéia é catapultar as exportações brasileiras de frutas, que foram de minguados US$ 160 milhões no ano passado ? menos de 1% de tudo o que foi vendido pelo Brasil no Exterior. Se tudo der certo, os produtores pretendem exportar anualmente US$ 500 milhões em três anos. A meta de exportações pode parecer insuficiente para ajudar a dar fôlego à balança comercial brasileira. E é. Mas para o setor, é uma corrida contra o tempo: o aumento da área plantada e da produtividade no Brasil, principalmente nos anos 90, está provocando um crescimento exagerado na oferta de frutas. ?Uma das razões da campanha é tentar escoar a produção?, diz Fernando de Almeida, presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (IBF).

Para concorrer com os grandes produtores mundiais como a China, os brasileiros estão deixando as rivalidades de lado. A idéia é formar um grupo capaz de ganhar força nas negociações com fornecedores e importadores. É um modelo semelhante ao adotado com sucesso pelos concorrentes em Israel e Nova Zelândia. ?Juntos, criamos um padrão único para nosso produto e ganhamos o mercado internacional?, atesta John McCliskie, presidente da Associação dos Produtores de Maçã da Nova Zelândia.

A tarefa de convencimento do mercado europeu não será fácil. Para conquistar os consumidores, será preciso ajustar a fruta brasileira aos critérios da CEE. E a lista é grande. ?A fruta tem de ser fresca e com apresentação padronizada e impecável?, diz Waller, o gerente da Safeway. A equipe de produtores brasileiros seguiu à risca as recomendações de Waller. Os clientes que participaram da degustação na semana passada ouvidos por DINHEIRO aprovaram as frutas. Loris Willian, 67 anos, fez uma ressalva: ?Dá para confiar na forma como vocês produzem??

Aí é que está o ponto. Historicamente, os produtores brasileiros nunca se preocuparam com a forma de apresentar o produto ao consumidor. Agora, quem cultiva fruta no Brasil está investindo em tecnologia e é isso que a Brazilian Fruit quer provar. Um exemplo é a fazenda do Carrefour no Vale do São Francisco, onde produtores desenvolvem a primeira plantação de uva orgânica do País. ?As redes européias impõem um padrão de qualidade que exige determinadas tecnologias da produção?, diz Almeida, do IBF. Os obstáculos não páram por aí. O setor ainda sofre com a burocracia de Brasília. Um exemplo é o Kultar, substância usada no cultivo da manga: o registro pedido há cinco anos para o governo ainda não tem previsão de liberação. Como mudar a burocracia de Brasília é impossível para eles, resta agora provar que o melão nacional é melhor que o da Costa Rica. E, quem sabe, convencer Waller a comprar a idéia.