O ultraconservador Ebrahim Raisi toma posse como novo presidente do Irã na próxima terça-feira (3), com o desafio de reativar uma economia em crise pelas sanções dos Estados Unidos e pelo impacto da pandemia de covid-19, assim como de relançar as negociações referentes ao acordo sobre seu programa nuclear.

Vencedor da eleição presidencial de junho, marcada por uma abstenção recorde, Raisi sucede ao moderado Hassan Rohani. Foi este último que concluiu um acordo com as grandes potências, em 2015, após 12 anos de tensões sobre o programa nuclear iraniano.

Este antigo chefe da Autoridade Judicial, de 60 anos, iniciará seu mandato de quatro anos, oficialmente, após a aprovação de sua eleição por parte do guia supremo, aiatolá Ali Khamenei.

Prestará juramento no Parlamento na quinta-feira (5).

O “principal” objetivo de Raisi “será melhorar a situação econômica, reforçando as relações econômicas entre a República Islâmica do Irã e os países vizinhos”, afirma Clément Therme, pesquisador do Instituto Universitário Europeu, na Itália.

Trata-se de “construir um modelo econômico que proteja o crescimento econômico do Irã das decisões e escolhas políticas dos Estados Unidos”, diz Therme à AFP.

Em 2018, o então presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos unilateralmente do acordo de 2015 e restabeleceu as sanções contra o Irã. Em resposta, as autoridades iranianas renunciaram à maioria dos principais compromissos assumidos no acordo e que limitavam as polêmicas atividades nucleares.

Segundo Therme, a prioridade de Raisi é “que as sanções americanas sejam suspensas”, “mas para melhorar qualitativamente e aumentar as trocas comerciais” com países não ocidentais, como China e Rússia.

As sanções sufocaram o país. A economia iraniana se contraiu mais de 6% em 2018 e 2019, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No inverno de 2017-2018 e, de novo em 2019, o Irã foi palco de manifestações de fundo econômico, em meio à crise que também se agravou pela pandemia da covid-19.

O sucessor de Trump, Joe Biden, manifestou sua disposição de voltar ao acordo de 2015 e iniciou negociações diretas com o Irã, em paralelo às que ocorrem em Viena com os demais membros do pacto: Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia.

Embora as negociações de Viena estejam bloqueadas até a posse de Raisi, o novo presidente iraniano deixou claro que não negociará “pelo simples prazer de negociar” e que “defenderá os interesses nacionais”.

Seis rodadas de negociações foram realizadas em Viena entre abril e junho.

O Irã não tem intenção de se apressar, avalia Therme.

“O novo governo conservador pretende mostrar que pode conseguir um acordo melhor do que o governo anterior”, completa o pesquisador.