Juliana Estradioto conquistou a premiação máxima na categoria de Ciência dos Materiais da Intel International Science and Engineering Fair (Isef), uma das maiores feiras de Ciências do mundo. O resultado foi anunciado ontem, nos EUA. Como prêmio, ela poderá batizar um asteroide com seu nome. Vencedores do Prêmio Nobel já foram laureados com o Isef, como Paul Modrich. E Juliana está credenciada para participar de uma cerimônia da entrega do Nobel.

Confira o depoimento de Juliana a Isabela Palhares:

Desde pequena, sempre gostei muito de estudar, ainda que às vezes achasse o conteúdo ensinado na escola longe da minha realidade. Quando estava terminando o ensino fundamental, minha mãe me incentivou a ir estudar no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), muito conhecido na minha cidade, Osório, pela excelência do ensino.

Fui aprovada para fazer o curso técnico em Administração, integrado ao ensino médio, mesmo não me vendo trabalhando nessa área. Fui para o curso pela qualidade do aprendizado e foi a melhor decisão que tomei. Como não existe a oferta de muitos cursos – são só duas opções -, os professores de todas as disciplinas nos incentivam a ir atrás dos nossos interesses. Mostram que não precisamos ficar restritos ao que é ensinado em uma área específica. No meu caso, foi a professora de Gestão da Produção e Qualidade que me despertou para a pesquisa.

Quando estava no 2.º ano do ensino médio, entrei para um programa de iniciação científica e me apaixonei pela área, mesmo com todas as dificuldades e o fato de muitas vezes não ter o básico para a pesquisa. Não havia espaços específicos, então usava o laboratório de panificação para os meus experimentos. Tudo sempre foi improvisado e só pôde ser feito por causa da criatividade e dedicação que aprendi a ter com os meus professores.

Foi com base na demanda de uma cooperativa de produtores de noz macadâmia que comecei a pensar em como poderia aproveitar a casa da noz, em vez de jogá-la no lixo. Pesquisei muito sobre material biológico e produzi uma farinha com a casca. Descobri que a membrana da macadâmia possui características como flexibilidade e resistência, o que a torna ótima para substituir o plástico.

Eu sou vegetariana e comecei a pensar em usar a farinha para fazer casacos veganos, em substituição ao couro animal. Descobri que dava certo para essa finalidade, mas continuei pensando em mais utilidades para a minha descoberta. Um dia, passeando com meu cachorro, fui recolher as fezes da calçada com um saquinho plástico e percebi que não há uma forma totalmente adequada de descartar esse material, se seria no lixo seco ou orgânico. Então, tive a ideia de usar a casca da noz para produzir embalagens biodegradáveis.

Eu adorei o processo de descoberta, apesar de todas as dificuldades. Tive de comprar reagente com meu próprio dinheiro, vi material básico faltar nas aulas. No meu câmpus, por exemplo, não havia nem um moinho para triturar a casca da noz e eu tinha de quebrá-la com um martelo. Depois fizemos parceria com outras instituições, que tinham equipamentos mais avançados, mas, como estão em Porto Alegre, muitas vezes minha orientadora me levava até lá por conta própria.

Meu sonho é seguir como cientista, como pesquisadora. Estou estudando para entrar em Química em uma boa universidade pública. Estou testando o uso desse material que produzi como curativo em cicatrizes de pele. É a parte mais desafiadora e que vai demandar mais investimento.

Me assusta ver os cortes que estão acontecendo na educação e ciência, mas o prêmio me incentivou a lutar, a ser uma voz para os alunos brasileiros. Somos capazes de fazer grandes e importantes descobertas, não podemos nos esquecer disso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.