Fundador da Mobills, fintech voltada para controle e educação de finanças pessoais, Carlos Terceiro falou, em entrevista à DINHEIRO, do plano da empresa de expandir internacionalmente e do desempenho desde que começou a operar, em 2014.

Vocês receberam aporte de investidores? Como tem sido o desempenho da Mobills?
Não recebemos investimentos. Foi um crescimento orgânico. Nossa base de assinaturas ativas aumentou 56% em 2019, na comparação com 2018. Faturamos R$ 4,2 milhões. Mesmo com a crise atual, esperamos crescer 50% em 2020. Hoje, somos o aplicativo de finanças pessoais com maior número de clientes pagantes. Até o momento, foram 7 milhões de downloads, sendo 80% no Brasil e os 20% restantes pulverizados pelo mundo.

Qual o impacto da pandemia no uso do aplicativo?
Nos dois últimos anos, temos trabalhado para nos posicionarmos como um aplicativo e empresa da área de educação financeira. Investimos muito em conteúdos e isso fez triplicar o número de acessos em nosso blog, para mais de 1 milhão, desde que a quarentena começou. Na primeira semana da quarentena, apuramos uma queda de 30% no número de usuários. Mas, na semana seguinte, aumentou de forma absurda o número de pessoas que reinstalaram o nosso aplicativo.

Quais são os planos para os próximos anos?
Começamos 2020 com a meta de crescer 80%, mas a crise nos fez redimensionar para 50%. No segundo semestre, vamos colocar novas funcionalidades no app e investir em inteligência artificial. Dessa forma, o aplicativo, com base nos dados inseridos, poderá definir o perfil de cada usuário e dar dicas e conselhos personalizados. Queremos crescer com mais força no mercado internacional em 2021, com foco na América Latina e países de língua inglesa. A expansão nos possibilitará aproveitar esse novo patamar que o dólar atingiu. Também vamos diversificar nosso negócio com parcerias
que contribuam com o faturamento.

Como surgiu a Mobills?
Em 2013, quando os smartphones começaram a se popularizar, procurei, mas não achei, aplicativos que pudessem substituir a planilha em Excel que eu usava para controlar as minhas finanças. Decidi criar uma e divulguei para amigos e familiares. Depois, ofereci na internet. Para minha surpresa, houve muitos downloads e percebi que poderia cobrar por isso. Em 2014, eu e meu sócio, que é meu irmão, lançamos uma versão de plataforma que roda em celulares e computadores pessoais
e também criamos um plano de assinaturas.

É voltado para pessoas físicas ou jurídicas?
O foco são pessoas físicas, mas também atende ao microempreendedor individual. Nossa proposta é que a vida financeira do nosso usuário esteja acessível na palma da mão dele. A versão premium pode gerenciar quantos cartões de crédito forem necessários e conta com gráficos e relatórios bem elaborados. A versão gratuita só permite cadastrar um cartão e os seus relatórios são mais simples. O usuário que deseja ter todas as funcionalidades paga R$ 80 no plano anual. Já o plano pago mensalmente custa apenas R$ 14,90.

É possível mensurar o impacto do aplicativo nas finanças dos usuários?
Fizemos duas pesquisas em maio para saber o impacto dessa crise no bolso das pessoas. Uma delas foi apenas com usuários da Mobills. Ao tabularmos, descobrimos que 39% têm reserva financeira. Isso não é o retrato do Brasil. Pelo contrário. Na outra pesquisa, realizada com não usuários do Mobills, apenas 8,6% tinham reserva. Eu interpreto que isso é reflexo positivo do planejamento financeiro que a plataforma proporciona.

CORONAVOUCHER
Bolsonaro veta participação de fintechs na distribuição do Auxílio

O presidente Jair Bolsonaro vetou a possibilidade de distribuição do auxílio emergencial de R$ 600 por meio de fintechs. Segundo o presidente a proposta, que já havia sido aprovada pelo Congresso, cria despesa para o governo federal sem indicar uma fonte de recursos como contrapartida.

A proposta estava sendo encarada pelo setor como uma ótima oportunidade para as fintechs mostrarem a capacidade que têm de prestar um serviço ágil. O segmento, aliás, defende que o uso de contas digitais e de meios de pagamento como maquininhas de cartões de débito e crédito facilitaria a distribuição da quantia. Com o veto, somente bancos públicos podem operar o auxílio emergencial, que está sob responsabilidade da Caixa Econômica Federal.

ACORDO
Parceria foca em cliente de baixa renda

O Banco Pan, especializado em crédito e serviços financeiros paras as classes C, D e E, fechou acordo com a Grão, fintech focada em microinvestimento. O objetivo é oferecer aos clientes de sua conta digital um ambiente de estímulo à poupança e ao consumo consciente. Lançada em 2018, a Grão permite investimentos a partir de R$ 1 com o objetivo de ajudar (e ensinar) as pessoas de menor poder aquisitivo a formar uma reserva financeira. Pelo acordo, o Pan terá exclusividade sobre o uso da tecnologia de integração entre o banco e a fintech. A ideia é transportar a mesma experiência de uso que as pessoas têm no app da Grão para o aplicativo do banco, por meio de APIs (instruções de programação que permitem interoperabilidade entre diferentes plataformas).

Números da semana
R$ 540,3 bilhões

É o montante que os bancos brasileiros já liberaram em crédito para famílias e empresas entre os dias 16 de março, data em que teve início a quarentena para combater a pandemia de coronavírus, e 8 de maio. A informação é da Federação Brasileira de Bancos, que divulgou balanço sobre o setor, na segunda-feira 18. Nesse período, foram liberados R$ 378 bilhões em novas concessões de créditos, R$ 114,8 bilhões em renovações de financiamentos e R$ 47,5 bilhões em renegociações. As novas concessões de crédito atendem principalmente ao setor empresarial. Apenas R$ 86 bilhões foram liberados para pessoas físicas. Dos R$ 292 bilhões restantes,
R$ 216 bilhões foram destinados para as grandes empresas. As médias receberam R$ 43 bilhões e as micro e pequenas, R$ 31 bilhões. Os empréstimos às empresas representam alta de 81% na comparação do período. “Isso ocorreu em razão do expressivo aumento na demanda por crédito bancário, por causa da forte incerteza do cenário econômico, da redução das operações no mercado de capitais e do cancelamento de linhas de financiamento externo para o Brasil”, explicou a federação.