Conspiradores dirão: “Claro que já existem clones humanos por aí!”. Bem, humanos comprovados não sabemos, mas uma fofa gatinha branca da raça Ragdoll Belle é um exato clone de sua geradora, Chai, em Austin, Texas. O custo, em 2017, foi de US$ 25 mil. Hoje, custaria US$ 35 mil. Este é um mercado caríssimo, que envolve alta tecnologia na área biológica, e para poucos. E partiu de outro tipo de clonagem: o de procriação de animais premiados, um mercado que já existe desde 2000 e que até recebeu aprovação da FDA (Food and Drug Administration) para ser feito para finalidade de alimentação, em 2008. Não usando gatinhos, claro, mas gado, além cavalos e bois, com custo parecido com o de pets, por incrível que pareça. “É muito dinheiro”, disse à DINHEIRO Kelly Anderson, dona de Belle, que fez o procedimento em uma das poucas clínicas no mundo que fazem isso, a texana ViaGen Pets. “É incrível poder clonar um animal de estimação.”

É um processo realmente complexo, com a retirada de algumas células do tecido do animal original, que são colocadas em uma mistura de enzimas que tira o DNA do composto. O próximo passo é um ovo não fertilizado de outro animal doador — e o pequeníssimo núcleo dele será removido e trocado pelo núcleo do animal que se quer clonar. Esse novo ovo que agora contém o tal DNA é colocado em uma mistura com nutrientes que se encontram em um útero e ele é cultivado até que se torne embriões para serem implantados em um animal que será a barriga de aluguel.

Como na fertilização in vitro de humanos, quando o processo de ‘enganar a natureza’ dá certo, meses depois nasce o bichinho. Não há certeza de 100% de sucesso no procedimento. É tão tedioso e difícil que a famosa e precursora ovelha Dolly, em 1996, teve 277 tentativas malsucedidas anté dar certo. Daí associações protetoras dos animais dizerem que é cruel tantos fetos morrerem até que um alcance a linha de chegada — seria mais ‘humano’ escolher um animal em um abrigo. Mas o negócio da clonagem está aí.

VISUALMENTE INDISTINGUÍVEIS A gata Chai e sua clone Belle. Para a dona foi uma maneira de ter algo da original em um novo animal de estimação. (Crédito:Divulgação)

E cada animal tem seu preço. Um cachorro é mais caro, US$ 50 mil, pois é um dos mais difíceis de passar pela clonagem, devido a irregular ovulação, ovos ficarem maduros apenas por algumas horas e estarem cercados por gordura, o que dificulta a sua extração. Isso, claro, não impediu que a cantora americana Barbra Streisand clonasse dois de seus cachorros, em 2018. Um casal na Califórnia clonou seu labrador Marley pela mesma ViaGen Pets e obteve Ziggy. Alicia, a dona, dise à CNN que “eles têm a mesma personalidade, brincam da mesma forma e optam pelos mesmo brinquedos”.

Mas isso não é uma garantia. Pelo contrário. A clonagem refaz visualmente o animal. Mas é como se ele viesse sem memória e experiência alguma. Resetado. Kelly Anderson, dona da Belle, disse que em seu caso Chai nasceu muito doente e ficou assim por vários meses, isolada, sem aprender a conviver com outros animais. “Já a clone Belle nasceu saudável, ganhou mais peso, tem pelo mais regular, vai a bares comigo e é sociável”, afirmou.

Os chineses são a nação com maior obsessão por animais, tendo 58 milhões de gatos domésticos e 54 milhões de cachorros. Um mercado de US$ 28,2 bilhões, em 2021. Daí ser, com a Coreia do Sul, o país precursor nesse tipo de clonagem. Ainda assim, existem poucos pets clonados no mundo. Até pouco tempo, na clínica americana Sinogene, ao custo de US$ 53 mil cada, o número de cachorros não chegava a 40. Mas existe a etapa intermediária, que também gera lucro: só na preparação para clonagem, a empresa afirma que tem 100 clientes que guardaram amostras de DNA de seus animais.

O know how dos chineses já possibilitou que eles clonassem os dificílimos macacos e criassem supercachorros alterando seus genes. A empresa com a maior fatia de market share nesse mundo é a chinesa Boyalife, que construiu uma instalação de US$ 30 milhões em Tianjin e que se especializou em gado que fornece carne prime, cavalos de corrida e cachorros com faro raro para drogas. “Mas nós não fazemos clones humanos. Nunca faremos Frankensteins”, disse o CEO Xu Xiaochun à NBC. Mary Shelley agradece.