A desunida e desorganizada América Latina canta em coro, numa só voz, quando o assunto é crise. Colapso político no Peru, economia em frangalhos na Argentina, riscos fiscais e institucionais no Brasil e aprofundamento generalizado dos problemas sociais. Por aqui nunca se muda o roteiro. Jamais. Segundo o Banco Mundial, os países da região e do Caribe vão crescer 2,3% em 2022 (a média mundial será quase 80% maior e chegará a 4,1%). No ano que vem, a evolução será igualmente pífia, de 2,2% (o restante do planeta crescerá 45% mais, em média, a 3,3%). Para o Brasil, o cenário é mais desastroso. Oscilação de 0,7% do PIB este ano e de 1,3% em 2023.

Segundo o Banco Mundial, a saída dessa sinuca é a mesma de sempre: reformas estruturais. Na avaliação do economista-chefe da entidade para a América Latina, William Maloney, os países do continente foram duramente impactos pela Covid-19, mas o Brasil tem sido especialmente penalizado com a morte de mais de 660 mil pessoas e, mais recentemente, a ameaça de indisponibilidade de fertilizantes, trazida pelas sanções à Rússia. “O Brasil é dos que mais têm dificuldade na recuperação da pandemia, talvez porque tenha sido atingido de modo especialmente duro por ela”, disse Maloney.

As demais quatro maiores economias latino-americanas crescerão mais que o Brasil ­­— México (2,1%), Argentina (3,6%), Colômbia (4,4%) e Chile (1,9%), mas apenas os colombianos estarão acima da média global. O maior desenvolvimento regional ficará nas mãos da Guiana, com taxa de 47,9% em 2022, por causa do descobrimento recente de reservas de petróleo. Com PIB de U$ 6,5 bilhões (2021), cerca de R$ 30 bilhões, e 790 mil habitantes, sua economia é menor que a da cidade de São José dos Campos (SP), que tem 730 mil moradores e PIB equivalente a R$ 44 bilhões. O Banco Mundial não incluiu a Venezuela em suas estimativas.

Parte da justificativa para o ambiente de baixo crescimento e aumento da pobreza está na inflação. E essa, neste lado do mundo, costuma ser filha de gastos públicos descontrolados, mas agravada por uma crise global. Sem muitos mecanismos para amortecer a alta dos custos de transporte marítimo, dos combustíveis e dos alimentos, as populações da América Latina vão ficar mais pobres. Os reflexos no tecido social são catastróficos. O Banco Mundial afirma que os índices de pobreza subiram para 27,5% em 2021 e ainda estão acima dos níveis pré-Covid, de 25,6%. Segundo a instituição, os prejuízos na educação podem levar à redução de 10% em ganhos futuros para milhões de crianças em idade escolar.

Uma alternativa para estimular os países da região é o aumento dos investimentos em energias renováveis, segundo o vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e do Caribe, Carlos Felipe Jaramillo. Ele defende que as reformas precisam ser acompanhadas de um plano regional de economia verde. Nas últimas duas décadas, os países da América Latina e do Caribe perderam o equivalente a 1,7% do PIB de um ano devido a desastres relacionados ao clima e 5,8 milhões de pessoas na região podem ser empurradas para a pobreza extrema até 2030.

Por isso, o relatório propõe um conjunto de políticas que podem ajudar a aproveitar as oportunidades verdes de crescimento, como estratégias de preço que incentivem a adoção de tecnologias de baixo carbono, mudança nos subsídios para combustíveis fósseis, criação de impostos sobre as emissões de carbono e sistemas de comércio de emissões.

A análise do Banco Mundial recomenda ainda a criação de mecanismos confiáveis de verificação que facilitem o acesso a prêmios verdes, o que permitiria a exportação de créditos de carbono. A adoção de sistemas para identificar e adotar tecnologias com o objetivo de mitigar o impacto da região sobre o clima e se adaptar a ele também faz parte da recomendação da entidade. Sugestões tão próximas da América Latina hoje quanto a responsabilidade fiscal de seus governantes. Na prática, o que tem unido os países da América Latina ao longo do tempo são apenas seus erros.