Lula e Bolsonaro, principais nomes para disputa eleitoral deste ano, têm se esforçado para angariar votos importantes de camadas específicas da população. Enquanto o petista abre o diálogo com grandes empresários, o atual presidente tenta ganhar o eleitorado mais vulnerável economicamente. Os dois estão, no entanto, deixando de lado uma categoria significativa e que representa 30% do PIB brasileiro e já soma 25,9 milhões de pessoas. Os pequenos empresários.

Gerando uma renda de cerca de R$ 420 bilhões por ano, segundo o recém lançado Atlas dos Pequenos Negócios, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a relevância econômica destes empreendedores de micro e pequeno porte não para de crescer. Vem deles R$ 35 bilhões por mês injetados na economia brasileira, R$ 11 bilhões só de Microempreendedores Individuais (MEIs).

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Com essa importância econômica e peso na hora de votar, os candidatos precisam começar a apresentar projetos específicos para esse perfil de empresários. Lucas Santos, economista e professor da Universidade de São Paulo, estima que qualquer política macroeconômica de retomada precisa envolver esses personagens. “São dois pilares que tem que ser discutidos para esse empreendedor. A abertura de linhas de créditos generosas [como as do BNDES para o grande empresário] e desoneração da folha de pagamento por porte da empresa, não por área de atuação”. Com essas duas medidas ele avalia ser possível estimular o crescimento da categoria, ampliar a mão de obra e acelerar a retomada.

No caso do crédito, o problema tem esbarrado nas garantias. A maior parte dos empresários que tentaram obter recursos por meio de bancos durante a pandemia não conseguiram por não possuir qualificação mínima para o obter o recurso, o que exigiria a mão do governo para ser fiador ou provedor do recurso. 

Essa injeção de capital logo seria revertida em mais contratações, diz Santos. E esse é o caminho que o presidente do Sebrae,  Carlos Melles, espera que aconteça. Segundo ele, a participação dessas empresas no PIB poderá chegar a 40%, caso o país cresça 3% ao ano nos próximos anos. “Em países desenvolvidos, a participação dos pequenos negócios no PIB fica em torno de 40% a 50%. Se em 10 anos conseguirmos promover esse crescimento, toda a economia sai beneficiada, graças ao poder que as PMEs [pequenas e micro empresas] têm de gerar renda e empregos”, afirmou.

De 2012 a 2021, o número de trabalhadores por conta própria no Brasil cresceu 26%, passando de 20,5 milhões para 25,9 milhões. No mesmo período, o número de formalizações entre os MEI passou de 2,6 milhões para 11,3 milhões, alta de 323%. Isso significa crescimento mais de 12 vezes maior entre os microempreendedores individuais, comparado com os donos de negócios que não se formalizaram. Números impossíveis de ignorar por quem quer que assuma a cadeira de presidente da República em 2023.