O destino da operadora Oi, em recuperação judicial desde 2016, com dívidas de R$ 64 bilhões e 55 mil credores, até a última semana parecia selado. Em uma proposta conjunta, as concorrentes Vivo, Claro e TIM pagariam até R$ 15 bilhões (preço mínimo estipulado pela Oi) pelos ativos no segmento de telefonia móvel. O negócio incluía incorporação de uma base de 36,7 milhões de clientes e as antenas em todo o País, mas não as operações de internet e telefonia fixa. Mas tudo mudou. Na noite da quarta-feira (22), a companhia Highline do Brasil, especializada em gestão de torres de transmissão e comprada no fim do ano passado pelo fundo americano de private equity Digital Colony, se comprometeu a pagar acima dos R$ 15 bilhões e conquistou exclusividade de compra até 3 de agosto. “A entrada de um quarto player na disputa é muito positiva. Tudo indica que o foco será em desenvolver novas redes e é disto que o Brasil precisa”, disse João Moura, presidente-executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp). “Redes alternativas criam possibilidades para parcerias de investimentos com operadoras competitivas e futuros players do universo digital, além de evitar a concentração de mercado.”

Embora seja uma desconhecida do cliente final, a Highline tem musculatura para peitar Vivo, Claro e TIM. A empresa é braço de um fundo que detém mais de US$ 60 bilhões de ativos. No Brasil, sob o comando do executivo Marcos Peigo (ex-IBM), o Digital Colony comprou, em abril deste ano, os data centers do UOL Diveo, com investimento estimado em US$ 400 milhões. Com isso, o fundo criou a Scala Datacenters S/A, marca para atuar nesse segmento. Procurado pela reportagem, Peigo disse que não pode “comentar sobre deals em andamento”. Em abril, no entanto, ele expôs parte da ambição do grupo no mercado brasileiro. “A demanda por infraestrutura de internet, dados celulares e nuvem vai crescer absurdamente depois do fim da pandemia”, afirmou à DINHEIRO, na ocasião. “Isso porque a digitalização das empresas, a expansão do e-commerce, as mudanças na forma de consumir e o 5G vão criar um gigantesco universo multibilionário para as empresas.”

A vantagem de um concorrente forasteiro na compra da Oi, que detém fatia de 16,28% no mercado brasileiro, não representa que Vivo, Claro e TIM estão fora do páreo. Com a compra dos ativos já endossada pelos conselhos de administração, a tendência é que novas ofertas sejam lançadas nas próximas semanas. Todas as empresas envolvidas não escondem o grande interesse em levar a melhor na disputa. “A transação agregará valor para nossos acionistas e clientes através de maior crescimento, geração de eficiências operacionais e melhorias na qualidade do serviço”, disse David Melcon Sanchez-Friera, diretor de relações com investidores da Telefônica, em comunicado. “Além disso, contribuirá para o desenvolvimento e competitividade do setor de telecomunicações brasileiro.”

O CEO da TIM Brasil, o italiano Pietro Labriola, afirmou à DINHEIRO, durante entrevista em fevereiro, que a companhia estava pronta para fazer aquisições de ativos que estivessem disponíveis. Com baixo endividamento e apetite pelo mercado do 5G, a TIM despontava como uma das favoritas para ficar com a maior fatia da Oi. “Em qualquer momento que um ativo estiver disponível para compra no mercado, tenho que avaliar se o negócio pode gerar valor a todos os meus acionistas. Uma vez que estiver formalizada essa possibilidade, tenho obrigação de avaliar”, disse Labriola. “Ter três operadoras no Brasil permitiria a todos ter um nível de rentabilidade razoável.”

CONCENTRAÇÃO A possível venda da Oi para a Highline Brasil animou, principalmente, os órgãos reguladores. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vinham monitorando com lupa o eventual fatiamento da Oi. Em telefonia celular segundo a consultoria Teleco, a Vivo lidera com 33,01%, seguido por 25,97% da Claro e 23,20% da TIM. A preocupação era que a concentração de mercado pudesse gerar danos a concorrência e aumentar o custo para os consumidores. “Diante das margens apertadas do setor de telefonia celular, nossa expectativa era de que uma empresa a menos resultasse em uma deterioração do ambiente concorrencial”, afirmou um conselheiro do Cade, que pediu para não ter o nome relevado.

A julgar pela euforia dos investidores com os novos rumos da Oi, a venda para a Highline é o caminho mais provável. As ações da operadora abriram com uma alta de quase 18% no pregão da B3 na manhã da quinta-feira (23). Com esse salto na valorização dos papeis da Oi, agora sim seu destino parece definido.