POUCAS COISAS PODEM acalmar a ira de um investidor que perdeu dinheiro. Pior ainda é quando o prejuízo é causado por uma falha de gestão na empresa na qual ele investe. Recentemente, a Previ, fundação que cuida da previdência dos funcionários do Banco do Brasil, reuniu um grupo que irá até a Aracruz pedir explicações sobre a manobra financeira que fez a empresa acumular um prejuízo de US$ 2,13 bilhões. O grupo estudará também a possibilidade de mover uma ação contra os gestores da companhia. Nos Estados Unidos, duas ações correm contra a Sadia, outra que perdeu um bom dinheiro. A boa notícia é que existem seguros de responsabilidade civil para executivos, conhecidos como D&O. Eles protegem os diretores, mas e a empresa?

O seguro D&O (sigla de directors and officers) é contratado pelas empresas para proteger determinados profissionais-chave que ocupam altos cargos. Contudo, ele é relativo. Não protege contra operações para benefício próprio do executivo, nem quando há uso de má-fé ou prática de fraude. “Mesmo quando há uma ação alegando essas situações, mas sem provas, a seguradora arca com as despesas até que o processo seja julgado e haja a condenação”, explica Paulo Baptista, gerente de produtos financeiros da Marsh Corretora. Com a expectativa de que as operações com derivativos cambiais feitas pelas empresas ainda produzam resultados ruins, o risco para as seguradoras aumenta, o que já está causando a subida do prêmio desses seguros. A Marsh fechou 50 novas apólices de D&O nos últimos seis meses deste ano, apenas no Brasil.

Fora do País, empresas chegam a contratar apólices de alguns bilhões de dólares. Aqui, US$ 50 milhões é o máximo. No entanto, empresas brasileiras listadas na Bolsa de Nova York chegam a adquirir apólices de US$ 300 milhões. No caso das que já tenham detectado problemas de gestão e querem contratar o seguro após o feito, dificilmente conseguirão uma seguradora que as atenda. “Se o executivo souber que existe o problema ou que ele está prestes a se materializar, o contrato é cancelado. É como fazer o seguro de um carro batido”, diz Leandro Martinez, gerente de seguros empresariais da Chubb. O ideal é fazer a contratação quando as coisas ainda estão dentro do controle e não há nenhum problema à vista.

Mesmo com o seguro, a empresa precisa se proteger de outras formas. “É preciso um controle de risco rigoroso para que esse tipo de seguro jamais precise ser contratado”, explica Gregory Gobetti, sócio de Serviços Financeiros da consultoria Ernst & Young. Segundo ele, uma boa análise sobre a funcionalidade dos instrumentos de gestão e uma arquitetura de governança corporativa protegem não só os diretores como também toda a companhia. “Se tudo está sendo devidamente monitorado, a empresa corre risco apenas se quiser”, completa.