Compro a 10!?, ?Vendo a 12!?, ?Tomei!?, apregoa o executivo Pedro Scarpa. A cena é típica da Bolsa de Valores, mas é encenada em outro endereço. Esta gritaria tem sido ouvida em um prédio comercial da Rua Dias Ferreira, no bairro carioca do Leblon. Ali, no mesmo andar da Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, funciona a Ágora Senior, corretora que se transformou em um fenômeno do pregão. No primeiro semestre do ano passado, ela negociou R$ 15 bilhões em operações no mercado financeiro. De janeiro a junho de 2004, este número dobrou, e sua carteira de clientes passou de 17 mil para 27 mil no espaço de um ano. Só com operações via internet, a Ágora atende 10 mil investidores, o que lhe garante quase 40% do mercado de negociação on-line. Nos últimos dois anos, a corretora se manteve no topo do ranking anual de operações em Bolsa, superando concorrentes associados a grandes conglomerados, como as corretoras do Itaú e do Morgan Stanley. O plano agora é ampliar o número de escritórios nos principais pontos do País e atingir praças pouco exploradas pelas concorrentes. ?Queremos nos aproximar dos pequenos e médios investidores?, diz Scarpa, um dos 11 sócios da Ágora.

A trajetória de crescimento da corretora foi definida há dois anos, quando o mercado acionário encolhia. Com o baixo volume de operações em Bolsa, mais de dez pequenas e médias corretoras baixaram as portas em 2002. Para superar a crise, a Ágora resolveu avançar na contramão da concorrência e continuou investindo. ?Apostamos na melhora do mercado de ações em uma época difícil e hoje vemos que acertamos?, comemora Scarpa. Nos últimos 12 meses, a Bolsa de Valores de São Paulo tem negociado uma média de R$ 1 bilhão ao dia. O número de clubes de investimento se multiplicou, e três empresas (Natura, Gol e ALL) lançaram ações. Até o total de pessoas físicas com investimentos em Bolsa aumentou. No mês passado, elas responderam por 30% do volume total de aplicações na Bovespa ? o maior percentual de pequenos e médios investidores da história do pregão paulistano. ?O mercado de capitais vive um bom momento, e se eles vislumbraram isso lá atrás vão lucrar agora?, diz Rogério Sobreira, professor de finanças da Ebape/FGV. Para crescer rapidamente, os sócios da Ágora compraram três corretoras de pequeno e médio porte nos últimos anos. A aquisição mais recente, concretizada há três meses, foi a da Égide, uma intermediadora financeira tradicional do Rio de Janeiro, com uma carteira de 3 mil clientes.

As táticas ousadas adotadas pela Ágora para impulsionar seu crescimento impressionam o mercado ? ?Eles são bastante agressivos e não param de investir?, reconhece um competidor ?, mas incomodam parte da concorrência. A maior chiadeira ocorre porque, nas operações pela internet, a Ágora cobra um valor fixo, independentemente do volume movimentado, enquanto as outras corretoras cobram um percentual sobre o valor da operação. ?Eles cobram abaixo da média do mercado só para movimentar mais e aparecer no ranking?, reclama um dos descontentes. O grupo de sócios da Ágora é formado por profissionais que saíram de alguns dos principais bancos multinacionais, como Goldman Sachs, Bear Stearns e Credit Suisse First Boston. Experientes, eles fazem pouco caso das farpas lançadas pela concorrência e avisam: ?Vamos continuar crescendo?.