Até o dia 21, o único responsável pelo prejuízo de US$ 2,1 bilhões sofrido pela fabricante de celulose Aracruz em 2008 por causa de apostas erradas no dólar era o ex-diretor financeiro Isac Zagury. No entanto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não concorda. Nove executivos e conselheiros foram indiciados para apurar responsabilidades. A Aracruz foi surpreendida pela alta do dólar. O prejuízo forçou sua união com a concorrente Votorantim Celulose e Papel (VCP), formando a Fibria.

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A medida da CVM inclui Carlos Aguiar, hoje presidente da Fíbria. O que está em debate é: de quem é a culpa? Procurados, os executivos e a Fibria não quiseram fazer comentários e a CVM informou que não discute processos em tramitação. Quando os gravadores são desligados, surgem mais pormenores do caso.

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Para a Aracruz, a proteção contra oscilações no câmbio era essencial. Esse é o principal argumento em defesa de Zagury: operações tão relevantes não poderiam ter sido feitas sem o conhecimento dos chefes dele. Já os representantes dos acusados afirmam ter provas de que Zagury instruiu sua equipe a não falar com os chefes.  Enquanto a CVM não chegar a uma conclusão, permanece a dúvida: afinal, quem mandava nas contas da Aracruz?

 

Destaque no pregão

A nau ruma para Portugal

A portuguesa Brisa despediu-se na semana passada da CCR, a concessionária brasileira de rodovias. Sócio desde 2001, o grupo presidido por Vasco de Mello tinha 16,3% de participação na CCR. Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, os sócios brasileiros, vão pagar R$ 900 milhões por 6% das ações da Brisa, o que garante 51% do capital social e o controle do negócio. Os 10,3% restantes serão ofertados por meio de uma colocação privada de ações nas próximas semanas. A Brisa espera levantar R$ 2,7 bilhões. Os recursos serão usados para arrumar o caixa da empresa em Portugal.

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Palavra de analista

O impacto foi imediato na bolsa. No dia do anúncio, na quarta-feira 23, a ação da CCR caiu 2,8%, contra alta de 0,5% do Ibovespa. “A Brisa saiu da sociedade por um preço inferior ao das últimas semanas”, diz Marco Saravalle, da Coinvalores, que colocou o preço-alvo da ação em revisão. No entanto, a saída dos portugueses não afetará o comando da empresa. Os controladores não mudam e a CCR busca diversificação, com a construção da Linha 4 do Metrô de São Paulo.

 

Petróleo

Ações de Manguinhos sobem 45%

As ações ON da Refinaria Manguinhos estão entre as maiores altas da bolsa de São Paulo em junho. Até a quinta-feira 24, elas subiram mais de 45%, enquanto a média do mercado avançou pouco mais de 3%. A empresa foi vendida em 2005 pelo Grupo Peixoto de Castro para Marcelo Sereno, que é ex-secretário nacional de comunicação do PT e ligado ao ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O entusiasmo do mercado justifica-se pelo fato de a Petrobras ter declarado na terça-feira 23, que estuda oportunidade de negócios com a Manguinhos.

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Quem (não) vem lá

O recuo da M.Dias Branco

Está certo que é preciso pensar bem antes de anunciar uma captação de recursos, mas desistir de uma oferta pela segunda vez no ano parece indicar que falta algo no planejamento da empresa. Foi o que aconteceu na semana passada com a fabricante de alimentos M.Dias Branco, de Francisco Ivens de Sá. A empresa cancelou sua emissão secundária de cerca de R$ 600 milhões, alegando condições desfavoráveis no mercado acionário. “A recomendação é de não atraente para o papel”, escreveu Renato Prado, do Banco Fator Corretora, em relatório. Traduzindo, a indicação é de venda para a ação.

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Fique de olho: quatro companhias continuam com seus projetos de lançamento de ações em análise pela CVM:
W.Torre Empreendimentos Imobiliários, Sonae, Brasil Insurance e Autometal.

 

Educação financeira

Uma das diversas maneiras de saber se uma ação está cara ou barata em comparação com outra do mesmo setor é calcular a relação entre preço e lucro (P/L) de cada uma delas. Este indicador é obtido dividindo-se a cotação da ação (o preço) pelo lucro por ação do último exercício. O resultado indica quanto tempo, em anos, vai demorar para que os lucros da empresa se igualem ao valor que o investidor pagou pela ação.

Touro x urso

As preocupações com a Europa estão mais suaves. O que voltou a alarmar os investidores foram as dúvidas sobre a recuperação da economia americana. O Ibovespa, principal indicador da BM&FBovespa, caiu 0,7% entre segunda (21) e quinta-feira (24). “Após um período em que parecia que as coisas haviam melhorado, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) mostrou um otimismo menor com a recuperação e os dados de imóveis ainda estão muito ruins”, diz o economista Silvio Campos, do Banco Schahin. A nova semana deve se manter volátil e dependente da agenda americana, que conta com dados da renda e gastos pessoais (28), confiança do consumidor (28), vendas de automóveis (1º de julho) e taxa de desemprego (2).

Altas da semana

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Quedas da semana

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As 10 mais negociadas do Ibovespa

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Desempenho das empresas por setor de atividade econômica

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Termômetro do mercado

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Bolsa no mundo

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Personagem

O problema é a inflação

O crescimento da renda e do emprego devem estimular o consumo. Isso é vantajoso para companhias como a Grendene, fabricante dos sapatos e das sandálias Melissa e dos chinelos Ipanema, certo? Olhando-se apenas o mercado interno, sim. No entanto, a queda do dólar em relação ao real prejudicou as exportações e beneficiou os produtos importados, especialmente os chineses, o que afetou o resultado.

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No primeiro trimestre do ano o lucro da empresa caiu para R$ 46,9 milhões, uma retração de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Francisco Schmitt, diretor de relações com investidores da companhia, conversou com a DINHEIRO.

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DINHEIRO – Por que lucro da Grendene caiu no primeiro trimestre, mesmo com a economia mais aquecida?
FRANCISCO SCHMITT – 
A queda no lucro foi provocada pela sazonalidade. O primeiro trimestre é o mais forte das exportações, mas o câmbio mais fraco prejudicou o resultado. Em 2009, o dólar estava muito mais favorável do que agora.

DINHEIRO – Que taxa de câmbio vocês consideram ideal?
SCHMITT – 
A Grendene exporta para 90 países, então o câmbio é uma variável essencial. Quando o dólar custava R$ 1,65, nós exportávamos com lucro, mas agora o mercado mudou e os níveis atuais são menos confortáveis.

DINHEIRO – Como a alta dos juros afeta os resultados? 
SCHMITT –
 Não afeta muito, porque as mudanças nos juros têm mais impacto no consumo que depende do crédito. A inflação é uma preocupação maior do que a alta dos juros.

DINHEIRO – O que vocês esperam para o mercado no longo prazo?
SCHMITT –
 Hoje temos um consumo no Brasil entre 700 e 750 milhões de pares por ano, cerca de 3,5 pares por pessoa. É razoável prever que o aumento da renda eleve o consumo por habitante para 4 ou 4,5 pares nos próximos cinco anos. Esse crescimento pode levar o mercado brasileiro a um bilhão de pares por ano, equivalente ao consumo da Índia.

DINHEIRO – Como fica a questão da concorrência com a China?
SCHMITT – 
Temos de olhar dois cenários em relação à China. Um é a importação de calçados chineses. Depois que o Brasil adotou medidas antidumping, a concorrência chinesa perdeu força, especialmente nos calçados esportivos. A Grendene não atua nesse ramo, mas essa decisão restabeleceu a competitividade das empresas brasileiras.

DINHEIRO – E o outro cenário?
SCHMITT –
 É a questão da moeda chinesa. Somos mais produtivos que os chineses, mas o câmbio lá nos prejudica. A saída é competir nos segmentos de maior valor agregado, em que a força da marca faz mais diferença, como Melissa, Ipanema e Rider.

DINHEIRO – Apesar das boas perspectivas, as ações estão caindo. Por quê? 
SCHMITT – 
Somos uma empresa de pequena capitalização em bolsa quando comparada com gigantes como Vale e Petrobras. Nos últimos tempos, a liquidez das empresas de capitalização menor caiu, porque os investidores têm preferido papéis mais líquidos. Isso é normal em períodos de muita volatilidade e incerteza no mercado mundial, como vimos recentemente.

DINHEIRO – Há possibilidade de  consolidação no setor?
SCHMITT –
 É difícil. Há três grandes empresas no Brasil. Elas não são concorrentes perfeitos, pois não atuam nos mesmos segmentos e todas têm fatias de mercado bastante expressivas. As outras são pequenas ou focadas em nichos, e não mudariam a posição de mercado das líderes.

 

Pelo mundo

iPad encantador

Apenas 80 dias após o lançamento do iPad, a Apple já contabiliza 3 milhões de unidades vendidas, informou a empresa na terça-feira 22. O presidente, Steve Jobs, afirmou que o aparelho encanta os consumidores. Desde seu lançamento, as ações subiram 15%.

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A saga da Telefônica pela Vivo

A espanhola Telefônica reduziu para 2% sua participação na Portugal Telecom (PT), depois de vender 8% das ações que possuía. No dia 30, será realizada uma assembleia para os acionistas da PT decidirem se aceitam a oferta de E 6,5 bilhões feita pela Telefônica pela fatia da portuguesa na brasileira Vivo

 

Investidor teme regulação

A proximidade da reunião do G-20, assustou os investidores e o setor bancário nos EUA teve as maiores perdas na quinta-feira 24. O grupo deverá discutir tópicos sobre regulação bancária, mercados derivativos e tributação do sistema financeiro.

 

Dell otimista

A Dell informou, na quarta-feira 23, que prevê um crescimento entre 14% e 19% das vendas no ano fiscal de 2011, impulsionado pela renovação de computadores nos segmentos governamental e comercial. Se confirmado, será um alívio para o fundador Michael Dell, que no início do mês disse que já pensou em fechar o capital da empresa.

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Cartões

Concorrência acirrada

O setor de cartões está cada vez mais agitado com o fim da exclusividade da bandeira Visa com a Cielo, a partir de 1º de julho. Na segunda-feira 21, a processadora Redecard anunciou uma nova parceria para oferecer serviços e produtos de adquirência, desta vez junto ao banco Triângulo, instituição financeira vinculada ao grupo atacadista Martins e presidida por João Rabello. O banco está presente em 150 mil estabelecimentos comerciais. A Redecard estima possuir uma participação de aproximadamente 50% no volume financeiro processado. “Com o fim da exclusividade, a empresa deverá aumentar a sua base de captura de transações em relação à Cielo nesses estabelecimentos onde o banco Triângulo possui relacionamento”, avalia o analista Daniel Malheiros, da Spinelli Corretora.