A vida de Alicia Dudy Muller Veiga, estudante de 25 anos, mostrava características diferentes das apontadas pelas suspeitas que tomaram conta da vida da jovem. Aprovação em um dos cursos mais disputados do país, atuação em grupos de pesquisa na graduação e sonhos na Medicina. Sensibilidade foi uma palavra usada pela aluna em depoimento ao Jornal da USP, onde é matriculada. 

A rotina de dedicação, porém, é atravessada por suspeitas. Alicia é investigada por um desvio de R$ 927 mil de formandos da Faculdade de Medicina da USP, após denúncia feita por integrantes da comissão de formatura da 106ª turma da universidade. Desde então, a jovem é investigada pela Polícia Civil.

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Até então, a dedicação de Alicia não correspondia necessariamente aos seus atos suspeitos. Antes da USP, a moradora do Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo, estudou na Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas e, em seguida, no cursinho pré-vestibular Poliedro. 

Alicia garantiu a vaga e entrou na USP com sonhos. “Eu ainda não tenho noção em que área me especializar, se seria neurologia ou oncologia. Essas duas são as que mais me atraem porque tem muito o que pesquisar. (Tenho) curiosidade mesmo de estar lidando com aquela situação de tratar uma pessoa, ter a sensibilidade de, com o tato, identificar o que está acontecendo, porque é muito sensível, delicado e desafiador. É uma coisa que eu gosto”, disse ao Jornal da USP, em fevereiro de 2018.

Desde o ingresso na Universidade, a estudante publicou artigos sobre intubação de pacientes com Covid-19 e outros tratamentos para pessoas com a doença; buscou disciplinas no MD PhD, programa da USP para graduandos que querem ‘adiantar’ aulas de doutorado; iniciou residência no Laboratório de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas.

Um dos alunos da USP deu declaração ao Estadão sobre a colega. “A nossa impressão dela era de aluna normal. Desconheço qualquer problema que ela tivesse. Na formação da comissão (de formatura) não haviam outros interessados em ocupar o cargo da presidência e ela se dispôs”.

Alicia coleciona suspeitas 

Outra investigação aparece no histórico da então estudante dedicada. Desde julho do ano passado, a mesma aluna é investigada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de São Bernardo do Campo, por estelionato e lavagem de dinheiro. 

A aluna da USP teria realizado apostas em uma casa lotérica na Zona Sul de São Paulo e dado o prejuízo de R$ 192,9 mil aos proprietários. Segundo o portal Metrópoles, o dono da lotérica afirmou que as apostas frequentes da estudante eram pela Lotofácil, e que ela era cliente recorrente, sempre com apostas acima de R$ 10 mil. 

Além das suspeitas de fraudes que Alicia já responde, consta no Portal da Transparência do Governo Federal que ela recebeu R$ 3 mil de Auxílio Emergencial, benefício destinado a pessoas de baixa renda entre 2020 e 2021. A estudante teria recebido R$ 3 mil em cinco parcelas de R$ 600, e não chegou a devolver o montante.