Nesta quarta-feira, 4, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), afirmou que vem sofrendo perseguição. “Os inimigos querem me queimar, mas não irão conseguir”, teria dito em conversa de WhatsApp, mostrada por um fotógrafo do jornal Estado de S. Paulo. A declaração da ex-deputada do Rio de Janeiro vem do caso publicado na primeira semana do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): conhecida como Daniela do Waguinho, a ministra esteve envolvida com Juracy Alves Prudêncio, miliciano preso em 2009.

O que foi mostrado até então foi uma imagem de Daniela do Waguinho, como é conhecida a ministra, ao lado de Juracy em 2018, em evento de campanha política. O marido de Daniela, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, era prefeito de Belford Roxo, onde Juracy conseguiu cargo de Diretor do Departamento de Ordem Urbana.

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Nas conversas apuradas pelo Estadão, Daniela afirma que estava desconfortável e que “cabe à polícia e à Justiça investigar e julgar casos que são da polícia e da Justiça”. 

“Desconfortável hoje. Jornalistas cochichando”, escreveu Daniela ao seu chefe de gabinete na Câmara e futuro secretário executivo do ministério, identificado como Bento. “Talvez seja porque você já está impressionada. Aí as coisas ficam mais gritantes para você”, respondeu ele. A ministra, então, minimizou o abalo emocional. “Não sou dramática. Isso não prosperará. Os trabalhos irão abafar a notícia ruim”.

Associação com Freixo

Além da prisão por associação criminosa e homicídio, pelos quais paga a pena de 26 anos em regime semiaberto, Juracy foi citado na CPI das Milícias, presidida pelo então deputado Marcelo Freixo em 2008 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. 

Para o jornal O Globo, Freixo, recém filiado ao Partido dos Trabalhadores, disse que a relação com Daniela é recente e voltada ao diálogo.

Eu acho que cabe a ela falar sobre isso. Minha relação com ela é muito recente, mas muito boa e de muito diálogo. Não muda em nada e pelo que eu li da defesa, isso tinha mais a ver com a prefeitura (de Belford Roxo) do que com ela”. Freixo deve trabalhar ao lado de Daniela, já que foi empossado como presidente da Embratur, órgão vinculado ao Turismo.

Orçamento Secreto 

Outra polêmica sobre Daniela foi mostrada pelo portal R7. Ela foi uma das parlamentares que usou recursos do Orçamento Secreto de Jair Bolsonaro entre 2020 e 2022: foram R$ 73,7 milhões, sendo parte foi destinada para Belford Roxo, cidade comandada por Waguinho, marido da ministra e presidente estadual do União Brasil no Rio de Janeiro. 

As conhecidas emendas do relator, aprovadas por Bolsonaro, foram alvo de críticas de Lula desde a campanha política. 

O que diz o governo?

Integrantes da equipe de Lula se manifestaram a respeito do caso de Daniela. De modo geral, todos atribuem o fato à investigação da Justiça, mas que não há provas suficientes até o momento. 

Rui Costa, ministro da Casa Civil:

“Não tem até aqui nenhuma outra repercussão, nenhuma materialidade concreta sobre nada que crie nenhum tipo de desconforto até o momento. Se surgirem coisas novas, aí é outra história. Mas até aqui não tem nada que provoque nenhum tipo de desconforto, não”, afirmou Costa, no Planalto.

Flávio Dino, ministro da Justiça:

O ministro da Justiça, Flávio Dino, minimizou a situação da relação entre uma ministra do governo federal com um integrante de atividade criminosa. 

“A bem da verdade, políticas e políticos do Brasil, principalmente em momentos eleitorais, e, hoje, nesses dias de celular, têm fotos com todo mundo. O fato de ter uma foto com A, B ou C não significa ter ligação com as atividades eventualmente ilegais dessas mesmas pessoas. Eu penso que é possível, que é necessário a própria imprensa esclarecer melhor isso. Mas, até aqui, pelo que eu vi pela sua pergunta, se é uma foto não dá para jogar por foto”, exemplificou o ministro Flávio Dino ao explicar o caso para a Folha de S. Paulo.

Alexandre Padilha, ministro das Relações Exteriores:

“Tudo o que apareceu até agora, na minha opinião, não desabona em nada a grande deputada que é a deputada Daniela do Waguinho, que foi a deputada mais votada do Rio de Janeiro. Que na sua fala inicial, eu estava junto no convite ao Ministério do Turismo, deu uma demonstração assim de muita vontade de fazer um grande trabalho pelo Brasil”, afirmou Padilha em entrevista à GloboNews.

Deputada mais votada em 2022

Daniela foi a deputada mais votada em 2022 no Rio de Janeiro, após campanha para reeleição no cargo. Casada com Waguinho, ela é pedagoga e filiada ao União Brasil. Ingressou na política em 2003, já tendo passado por legendas como PSC, PRTB e MDB.

Em 2017, a ministra assumiu a Secretária de Assistência Social e Cidadania de Belford Roxo no primeiro mandato de Waguinho.