Tom Jobim dizia que o Brasil não é para principiantes. Agora, segundo a consultoria norte-americana A.T. Kearney, também não é para profissionais. Pela primeira vez desde 1998, o País está fora da lista dos 25 melhores mercados para se investir, elaborada todos os anos pela empresa. A pesquisa é feita com base em entrevistas com 500 executivos de multinacionais, que respondem quais países são os mais atrativos para o aporte de recursos nos três anos seguintes.

O Brasil figurou entre os cinco destinos mais promissores entre 2010 e 2014. Desde então, sua posição vem caindo. No ano passado, ele ficou na relação por muito pouco, beliscando a 25ª e última colocação. Outro país a ficar de fora foi Portugal. Neste ano, também pela primeira vez, ele não consta da lista, enquanto Taiwan e Finlândia estrearam no ranking. Pelo sétimo ano consecutivo, os Estados Unidos ficaram na liderança. Além deles, Alemanha, Canadá, Reino Unido e França são os favoritos dos investidores.

Leilões de aeroportos ocorridos em março atraíram o interesse de grandes grupos estrangeiros, mas não foram suficientes para animar o mercado como um todo (Crédito:Gabriel Heusi)

O desprestigio internacional do Brasil coincide com a turbulência que começou em meados de 2013 e culminou no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. A instabilidade política contribuiu para a saída da lista, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. Porém, o que realmente prejudicou a percepção dos investidores foi outro fator. “O principal motivo é a retomada da economia, que nunca chega”, afirma o especialista.

Os agentes de mercado vêm flertando com o entusiasmo desde 2016, quando o ex-presidente Michel Temer iniciou um programa de reformas. No entanto, a perspectiva de um ajuste fiscal, primeiro com Temer, e agora com Jair Bolsonaro, ainda não se refletiu em um crescimento firme do Produto Interno Bruto (PIB). “Houve um otimismo exagerado dos investidores após as eleições de 2018”, diz Alan Fernandes, presidente da unidade brasileira do banco de investimento chinês Haitong. “No entanto, não houve fatos concretos que justificassem esse sentimento.”

O quadro é de desalento. E a economia brasileira segue encolhendo. Na quarta-feira 15, o indicador IBC-BR, calculado pelo Banco Central (BC) e considerado uma prévia do PIB, registrou retração de 0,68% da economia no primeiro trimestre do ano. O dado oficial do IBGE será divulgado no próximo dia 30. Segundo Carlos Pedroso, economista do Banco MUFG Brasil, o banco prevê queda de 0,2% do PIB no primeiro trimestre e crescimento de 1,2% no ano. Isso vem desestimulando os investimentos.

Alan Fernandes, do Haitong: “O interesse chinês é cada vez mais abrangente, mas é preciso maior clareza sobre as perspectivas de crescimento” (Crédito:Marcio Bruno)

O dinheiro de fora tem chegado devagar. Segundo o BC, o Investimento Estrangeiro Direto cresceu para US$ 21,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, alta de 0,95% ante os US$ 20,9 bilhões do mesmo período do ano anterior. “Países que entraram no ranking vêm conseguindo atrair recursos em uma velocidade maior”, diz Pedroso. E, mesmo que o PIB estivesse crescendo, novos investimentos demorariam a aparecer. “A ociosidade da indústria é elevada e, com muitas máquinas paradas, os empresários não precisam investir”, diz o economista. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de utilização da capacidade instalada, caiu de 78,3% em março de 2018 para 76,5% em março deste ano.

FOCOS DE INTERESSE Fernandes, do Haitong, diz que os investidores chineses no momento estão mais se consultando do que investindo efetivamente. Eles têm mapeando as oportunidades do mercado brasileiro, com um interesse especial pela infraestrutura. No início deste ano, os leilões de aeroportos que levantaram R$ 2,37 bilhões chamaram sua atenção. Mesmo assim, quem fechou negócio foram os suíços da Zurich, que levaram os aeroportos de Macaé (RJ) e de Vitória (ES).

Espanhóis e brasileiros também, que assumiram, respectivamente, concessões no Nordeste e no Centro-Oeste. Além dos aeroportos, o radar de Pequim se voltou para investimentos em novas tecnologias no agronegócio e para o mercado de proteínas após o surto de febre suína que devastou a produção chinesa. “O interesse chinês é cada vez mais abrangente”, diz Fernandes. “No entanto, para que isso se transforme em investimento, é preciso mais clareza sobre as perspectivas do País nos próximos anos.” Já Pedroso, do Banco MUFG Brasil, está um pouco mais otimista. “Se as reformas forem aprovadas e tiverem o impacto positivo esperado para a economia, no ano que vem talvez o Brasil já volte a entrar no ranking”, diz ele.