Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia é o segundo país do mundo com mais casos de covid-19 (10,7 milhões), mas o número diário de novas infecções e mortes não para de cair há meses. A AFP detalha a situação do gigante do sul da Ásia em face da pandemia.

– O que dizem os números oficiais? –

A Índia informou seu primeiro caso de covid-19 em 30 de janeiro de 2020 e sua primeira morte em meados de março. O número de casos diários atingiu seu auge em setembro, com pouco mais de 97 mil infecções, segundo dados do Ministério da Saúde.

O país teve uma média de 1.000 mortes por dia em setembro, antes de esse número começar a diminuir. Na terça-feira foram registrados apenas 8.635 novos casos e 94 mortes, ou seja, um mínimo em oito meses.

Com um total de 10,7 milhões de casos e 155.000 mortes, a Índia apresenta uma taxa de mortalidade que está entre as menores dos 20 países mais afetados.

Em comparação, os Estados Unidos, o primeiro país do mundo em casos e mortes, registra mais de 26 milhões de infecções e cerca de 450.000 mortes. De acordo com a universidade Johns Hopkins, a Índia tem 11,43 mortes por 100.000 habitantes, contra 136,55 nos Estados Unidos.

– Dados refletem a realidade? –

Segundo especialistas que se baseiam em diversos estudos sorológicos nacionais, o número de pessoas que contraíram a doença na Índia é provavelmente muito mais elevado do que os dados oficiais revelam.

Um estudo nacional realizado entre dezembro e janeiro em bairros urbanos e rurais do país revelou que cerca de 21,5% da população – 280 milhões de pessoas – tinham anticorpos.

Outro estudo publicado esta semana e conduzido em Nova Delhi, uma das cidades indianas mais atingidas pelo vírus, concluiu que mais da metade dos 28.000 participantes tinham anticorpos.

– Quais medidas foram tomadas? –

Os especialistas temiam grandes estragos em cidades indianas densamente povoadas, com más condições de higiene. O sistema de saúde, subfinanciado e com problemas crônicos, também sugeria o pior.

Desde o início do alerta epidêmico, o governo aplicou medidas para controlar a disseminação do vírus, como a suspensão dos voos internacionais e a imposição, em março, de um dos mais rígidos confinamentos do mundo.

O uso da máscara passou a ser obrigatório em vários estados do país, e foram divulgadas campanhas informativas sobre as medidas a serem tomadas para evitar o contágio.

As restrições foram progressivamente relaxadas a partir de junho para relançar uma economia conturbada.

Médicos dos estados de Gujarat (oeste), Uttar Pradesh (norte) e Andhra Pradesh (centro), Delhi e Mumbai – que têm mais de 330 milhões de habitantes – disseram à AFP que constataram uma queda significativa no número de casos em hospitais.

Em Delhi, o governo afirma que 90% dos leitos dedicados a pacientes com covid-19 estão desocupados.

“Estamos tratando apenas 40, 50 pacientes no momento”, disse à AFP Deven Juneja, médico de um grande hospital em Delhi, lembrando “as longas filas de espera” em junho.

– Imunidade coletiva? –

Os especialistas declararam que era impossível explicar o retrocesso drástico na disseminação do vírus na Índia sem estudos mais conclusivos.

Mas os primeiros indícios sugerem que se trataria de uma situação de imunidade coletiva, o que significa que uma proporção significativa da população ficou imunizada contra a doença na maior parte da Índia.

“Acredito que há um número suficiente de pessoas na Índia que foram expostas ao vírus. E essa é talvez a razão pela qual os casos estão diminuindo”, comentou à AFP o virologista Shahid Jameel.

O diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), Poonam Khetrapal Singh, é mais cauteloso: “A Índia é um país vasto e diverso, é difícil atribuir a queda dos casos à imunidade coletiva”.

Desde meados de janeiro, a Índia vacina sua população com a ambiciosa meta de imunizar 300 milhões de pessoas até julho.

– Possível alta? –

Especialistas dizem que é muito cedo para comemorar a situação na Índia. “Não devemos baixar a guarda”, adverte Singh.

“Quanto mais permitirmos que o vírus se espalhe por toda parte, maior o risco de surgirem novas cepas. Esse é um risco real em escala global”, conclui.