O eventual recurso à energia nuclear como um método para reduzir as emissões de CO2 dividiu, nesta quinta-feira (12), os líderes da União Europeia (UE), no início de uma cúpula que deve confirmar seu ambicioso objetivo para limitar a mudança climática.

“A energia nuclear é uma energia limpa, sem emissões. Não entendo por que há países que têm problemas com isso”, afirmou o primeiro-ministro checo, Andrej Babis. “Sem a energia nuclear, [a transformação energética] é impossível para a República Checa”, alegou.

Babis deu suas declarações ao chegar a uma reunião com seus pares europeus em Bruxelas, na tentativa, mais uma vez, de manifestar seu apoio unânime ao objetivo de alcançar a neutralidade de carbono para 2050. Este é o eixo condutor do “Pacto Verde” anunciado pela Comissão Europeia.

Ainda que o princípio de fazer mais na luta contra a mudança climática seja globalmente compartilhado, países do Leste do bloco, mais dependentes de energias fósseis, pressionam para que se reconheça o diferente ponto de partida de suas economias e sociedades.

“Hungria e República Checa querem que a palavra nuclear figure explicitamente nas conclusões para obter financiamento”, disse uma fonte europeia à AFP.

“O custo da transformação energética na Polônia é muito mais elevado do que em vários países que foram muito mais felizes do que nas últimas décadas”, justificou seu primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, em Bruxelas.

Morawiecki se referia a países como a França, cuja combinação energética já leva o setor nuclear em consideração. Esta fonte de energia não conta, porém, com unanimidade no bloco e pode representar o principal desafio da cúpula.

A República Checa quer a inclusão na declaração da cúpula de uma referência à energia nuclear como um método possível para avançar rumo à neutralidade de carbono até 2050. Este objetivo enfrenta a resistência de países como Áustria e Luxemburgo.

Sua reivindicação surge em um momento em que os enviados dos 28 países do bloco não conseguem chegar a um acordo sobre se devem considerar o setor nuclear como uma energia verde e, portanto, suscetível de se beneficiar de um tratamento fiscal especial.

“Não devemos usar o dinheiro europeu para financiar a energia nuclear”, sentenciou o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, para quem “a energia nuclear não é nem sustentável, nem segura”.

Um diplomata de um país favorável à neutralidade de carbono para 2050 disse estar “moderadamente otimista” sobre um acordo, já que os países do Leste estão “conscientes da pressão”, e os demais devem se esforçar para “somá-los a esse objetivo”.

Na fachada do prédio onde acontece a cúpula, ativistas do Greenpeace penduraram faixas com as palavras “Emergência climática”, para pedir ação dos líderes europeus. As faixas e os ativistas foram retirados do local.

O vice-presidente da Comissão Europeia para o Pacto Verde, Frans Timmermans, tentou amenizar o debate ontem, afirmando que, embora a energia nuclear “não seja sustentável (…), tampouco tem emissões de dióxido de carbono”.

– Finanças, clima e energia

Além da ambição climática, o Marco Financeiro Plurianual (MFP) para o período 2021-2027 é outro duro debate esperado para esta quinta-feira.

Polônia, Hungria e República Checa querem compromissos claros sobre como a UE vai ajudá-los a descarbonizar suas economias e, neste ponto, o próximo orçamento comunitário é crucial.

“Vai ser uma briga grande”, “é um caso muito complicado”, disseram diplomatas ouvidos pela AFP, unânimes em criticar a proposta para o MFP apresentada pela Finlândia. O país exerce a presidência rotativa da instituição.

Os líderes europeus divergem sobre se devem aumentar, ou diminuir, as contribuições de cada país em um orçamento que não deve contar com o Reino Unido, em função do Brexit.