Uma das mais controversas afirmações sobre vinhos é a de que quanto mais velhos, melhores. No caso de vinhos fortificados, contudo, a idade tende a ser um atributo notável. Quem tiver disposto a tirar suas próprias conclusões pode acessar o site americano de bebidas vintage Old Liquors e encomendar uma garrafa do raríssimo JS Terrantez Madeira do início do século 19.

Os poucos exemplares à venda, por cerca de US$ 30 mil, fazem parte de lotes arrematados na casa de leilões Christie’s, em Londres, em 2017.

As garrafas foram descobertas pelos irmãos Oleg e Pedro que garimpam adegas privadas na Ilha da Madeira, em Portugal. Mantinham selos de cera e rolhas originais. O aspecto, porém, não era dos melhores: estavam cobertas por areia e sedimentos de vinhos acumulados há décadas. Após uma rigorosa degustação, vários exemplares foram dispensados, dada a evaporação do álcool ao longo do tempo e a perda das características.

Outros, como o da foto, da safra 1805, preservaram-se como preciosidades líquidas e receberam novas rolhas. Segundo os desgustadores, o aroma “de museu antigo” é seguido por notas de damasco seco e cravo-da-índia. Há boa intensidade e profundidade. Na boca, a sensação é untuosa e rica em sabores concentrados de caramelo. Segundo a crítica inglesa Jancis Robinson, os vinhos elaborados com a uva Terrantez são tão raros que merecem ser provados de qualquer garrafa que o enófilo encontrar.

No Brasil, um belo Blandy’s Terrantez 1976, que pode encarar um século de evolução, custa R$ 3.600 no site da importadora Mistral.

(Nota publicada na edição 1204 da Revista Dinheiro)