É comum que os passageiros de primeira viagem no mundo dos investimentos embarquem no vagão em que seus amigos e conhecidos já estão acomodados. Afinal, eles já devem ter comentado seus sucessos e fracassos, quais alternativas escolher e quais evitar. Essa estratégia é confortável. Porém, os especialistas advertem que seguir a manada é o maior erro que pode ser cometido nesse trejeto. Cada investidor tem objetivos, renda, tolerância ao risco e momento de vida específicos. Quem pretende comprar uma casa precisa traçar um caminho diferente de quem quer apenas fazer a próxima viagem de férias. “Todos nascem inexperientes e tendem a seguir as indicações de parentes e amigos, mas é preciso superar essas referências”, diz Raphael Cordeiro, planejador financeiro e CEO da Inva Capital. Para fazer isso, o primeiro passo é definir o propósito do investimento. “Sem saber o que quer, a pessoa fica perdida nesse universo”, afima Cordeiro.

Em seguida, é preciso pensar em outra jornada, a do auto-conhecimento. Ele vai dizer se o caminho até o objetivo tem de ser suave ou pode suportar alguns solavancos para antecipar a chegada. Aí entram os testes. Os nomes e a metodologia de avaliação variam de acordo com a instituição que a realizam. No entanto, as definições mais clássicas dividem os investidores em três grupos: Conservadores, Moderados e Agressivos.

Conservadores têm pouca renda disponível ou pouco tempo para acumular recursos. Os investidores desse perfil não podem perder dinheiro e devem fugir dos riscos. O investimento mais indicado para eles são os fundos de renda fixa, especialmente os citados na página 58. Eles também podem se beneficiar de títulos públicos prefixados, como as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e as Notas do Tesouro Nacional (NTN) da série F, vendidas no Tesouro Direto. Quem tem mais capital e menos pressa pode testar as debêntures incentivadas das empresas de infraestrutura, como companhias de energia e concessionárias de rodovias.

Os investidores Moderados têm mais dinheiro ou mais tempo para se recuperar de um prejuízo. Eles podem buscar alternativas menos previsíveis, ou de prazo mais longo, como os fundos Multimercados, que são analisados na página 72, ou os Fundos Imobiliários, na página 56. Também podem apostar em títulos públicos pós-fixados. São as NTN da série B, que pagam juros mais a variação da inflação medida pelo IPCA, ou as NTN da série C e as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), ambos papéis ligados à taxa de juros Selic.

Já os investidores Agressivos, — uma minoria, no Brasil — podem se dar ao luxo de perder boa parte do que aplicaram, pois terão tempo e renda para se recuperarem. No geral, esses investidores são os usuários preferenciais de ações e de fundos de ações e derivativos, como os analisados a partir da página 68. Para os especialistas, as ações mais promissoras estão ligadas ao setor de consumo, ao setor bancário ou são de empresas estatais. Leia a lista das recomendações na página 64.
Além do capital disponível, o momento de vida do investidor também é um dos fatores mais importantes para determinar o seu perfil. “Um jovem pode ter menos renda mas, como só pretende utilizar o dinheiro no longo prazo, ele tem mais tempo”, afirma Fábio Susteras, economista da SP Capital. “Já um aposentado pode ter mais renda disponível, mas precisa gastar no curto prazo.”

Aplique certo Não se sinta uma exceção se você estiver na dúvida sobre qual categoria se encaixa. “É muito difícil alguém perceber o próprio perfil”, diz Vera Rita de Mello, psicóloga especializada em finanças comportamentais. “As pessoas têm muita dificuldade de avaliar os riscos que correm”, afirma. “Seja por serem excessivamente otimistas, seja por guiarem suas decisões por preferências emocionais em vez de uma análise racional.” Para evitar que esse desconhecimento leve a aplicações inadequadas, desde 2015, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) obriga bancos e assessorias de investimentos a analisarem o perfil de quem chega com dinheiro para aplicar, o chamado teste de suitability (encaixe, em inglês).

Qualquer que seja o seu perfil, ele pode mudar ao longo do tempo. “Nossa decisões são influenciadas por nossas emoções, pelo estado de espírito e até por detalhes do ambiente que parecem ser sem importância”, afirma Vera Mello. Ficou curioso em conhecer seu perfil? Faça o teste na próxima página. Mesmo que não substitua o de uma corretora nem os conselhos de um especialista, ele ajuda a encontrar o lugar mais adequado no vagão dos investimentos.

TARIK KIZILKAYA

Defina seu perfil
A DINHEIRO, em parceria com Economistas da Diretoria de Produtos e Soluções e para Investidores do Itaú, formulou o seguinte questionário para ajudar você a saber em qual dos três perfis clássicos se encaixa. Lembre-se: responda com sinceridade e não da forma que acha que gostariam que você respondesse

1. Considerando seu ganho mensal:
a) Tudo o que você ganha vai para pagar contas e despesas
b) Você consegue poupar até 10% do que você ganha para investir
c) Você consegue poupar de 10% a 30% do que você ganha para investir

2. Quanto tempo você aceita esperar para colher o lucro desse investimento?
a) Até seis meses
b) Entre seis meses e dois anos
c) Mais de dois anos

3. Em relação a periodicidade de seus investimentos, você pretende investir:
a) de vez em quando
b) duas ou três vezes por ano
c) todo mês

4. Em relação a seus investimentos, você:
a) Não quer perder nada, mesmo ganhando pouco
b) Aceita perder um pouco do seu dinheiro, para tentar ganhar mais
c) Aceita perder muito do seu dinheiro, para tentar ganhar muito

5. Em relação a finalidade do seu investimento, você:
a) Quer quitar seu automóvel ou imóvel, e essa dívida não pode ser negociada
b) Quer fazer uma compra, podendo negociar o prazo e o valor das parcelas
c) Quer fazer uma viagem ou uma festa, e pode definir quanto e de que forma vai pagar

6. Em relação aos seus conhecimento sobre investimentos, você:
a) Conhece e já aplicou em caderneta de poupança e fundos DI
b) Conhece e já aplicou no Tesouro Direto
c) Conhece e já aplicou em fundos de ações, ações e debêntures

7. Qual é a sua formação acadêmica e área de trabalho?
a) Tenho formação ou trabalho nas áreas da saúde, de ciências sociais ou de comunicação
b) Tenho formação ou trabalho em administração de empresas, contabilidade ou engenharia
c) Tenho especialização ou trabalho no setor financeiro

GABARITO

  • Se a maioria das suas respostas foi A, você é um investidor CONSERVADOR
  • n Se a maioria das suas respostas foi B, você é um investidor MODERADO
  • n Se a maioria das suas respostas foi C, você é um investidor AGRESSIVO
  • n Se houve empate nas suas respostas entre A e B, você é um investidor CONSERVADOR
  • n Se houve empate nas suas respostas entre A e C, você é um investidor MODERADO
  • n Se houve empate nas suas respostas entre B e C, você é um investidor MODERADO