Não é preciso entrar na Igreja Martin Luther para ver o que guarda. Da lateral esquerda, em grande parte descoberta, é possível avistar o altar, seis bancos, o ladrilho carmim e também os andaimes que ajudam a manter o local de pé, após ter sido atingido no desabamento do Edifício Wilton Pais de Almeida, no Largo do Paiçandu, centro de São Paulo, que deixou nove mortos.

O espaço começa, contudo, a se aproximar do que era antes, há quase 11 meses. Na quarta-feira, dia 27, o processo de restauro teve início, processo que deve durar cerca de um ano, segundo o pastor Jonathan Klebber, de 30 anos, um dos dois pastores locais.

“Vai ser muito significativo para a comunidade, não pensando a igreja apenas como um templo em construção. Mas como o local onde muitas pessoas celebraram alegrias, batizaram os filhos, tiveram a bênção matrimonial aqui. Um local em que também choraram tristezas em sepultamentos, muitas vezes havia velórios dentro da igreja no passado.”

O religioso ressalta o valor histórico do local, que é a primeira igreja luterana da capital paulista (fundada há 110 anos) e bem tombado em nível municipal desde 1992 – e tombado provisoriamente pelo Estado. “É importante para a própria história de São Paulo.”

Naquele 1.º de Maio, ele chegou ao Paiçandu logo pela manhã, quando encontrou o também pastor Frederico Ludwig. “Era uma sensação de não acreditar no que estava acontecendo, uma dor principalmente por aquelas vidas que se perderam. O que aconteceu com a igreja é doloroso, mas foi uma perda material. As vidas não têm como recuperar; a igreja, a gente reconstrói.”

A restauração começou na quarta-feira após a primeira fase da obra receber aval. Segundo o pastor, se os órgãos de patrimônio permitirem, o objetivo é que a igreja fique o mais próxima possível do que era. Por enquanto, apenas a primeira fase já teve o projeto liberado nos conselhos de preservação.

Além dos cerca de R$ 200 mil gastos em obras emergenciais, a restauração completa custará R$ 4,2 milhões. Do total, contudo, está assegurado apenas o recurso da primeira fase (de R$ 1,7 milhão), decorrente de um seguro do imóvel e de doações.

A previsão é de que a obra leve um ano. “Mas tem a questão financeira, que pode fazer com que pare temporariamente”, ressalta o pastor. Enquanto isso, os cultos são realizados desde julho em uma área coberta ao lado do templo, normalmente utilizada para estacionar carros. Lá, um altar é improvisado com uma mesa, enquanto os fiéis se acomodam em cadeiras de plástico.

O pastor lembra que, após a liberação do local, mal era possível distinguir qual era o terreno do prédio e o da igreja. Onde hoje é a rampa, por exemplo, estava um buraco com mais de 2 metros, que era utilizado na busca por corpos e possíveis sobreviventes. Na igreja, também se acumulou entulho, que passou por triagem do que seria usado como molde na obra.

Essa parte da história, e também períodos anteriores da igreja, estão sendo registrados em imagens. Segundo o pastor, estuda-se a ideia de expô-las na entrada da igreja.

Plano

Neogótica, a igreja luterana havia passado por uma restauração pouco antes da tragédia. A obra, desta vez, é dividida em quatro fases, sendo a primeira de reforço das fundações, reconstrução da parede lateral, moldura dos vitrais, amarração do altar e reconstrução do telhado e do forro, dentre outros elementos.

Nas demais etapas, estão previstas revisão da estrutura da torre e reconstrução dos vitrais, bancos e lustres e demais itens da igreja. O órgão será devolvido ao local somente após a conclusão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.