Qual é o valor de dois minutos de propaganda em todas as tevês, duas vezes ao dia? Veiculadas no horário nobre, elas custariam R$ 5 milhões. Para o tucano José Serra o preço foi engolir um candidato a vice desconhecido, mas que garantiu a manutenção da coligação com os democratas e os dois minutos e 25 segundos que eles terão nos programas de tevê.

Com a escolha do deputado federal Índio da Costa, do DEM fluminense, agora terá sete minutos e 11 segundos, de um total de 25 minutos de propaganda total, veiculados três dias por semana, na hora do almoço e à noite. Menos do que a adversária petista, Dilma Rousseff, que conseguiu reunir dez minutos e 30 segundos, e mais do que a rival Marina Silva, do PV, que terá apenas um minuto e 17 segundos.
 

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O vice de Serra:relator do projeto Ficha Limpa, o deputado do Rio ganhou a vaga na última hora

 

Nas últimas semanas, a corrida pelas coligações não envolveu discussões programáticas, mas apenas o tempo de exposição na tevê. Dilma teve mais sucesso. Conseguiu atrair o PSC, com um dote entre 48 e 52 segundos. Quem conseguiu se manter neutro, apesar da corte de tucanos e petistas, foi o PP, com um minuto e 38 segundos.

“O horário eleitoral ajuda a definir o voto dos indecisos”, disse à DINHEIRO o cientista político Antonio Flávio Testa, professor da Universidade de Brasília. Para o cientista político Octavio Amorim Neto, da FGV-Rio, a importância do horário eleitoral é ainda maior.

“O tempo de tevê de cada partido tornou-se uma das principais moedas de negociação política no Brasil. Não apenas para presidente, mas também para deputados, senadores e nas outras instâncias”, afirma.

Nos Estados Unidos, os anúncios em rádio e tevê são pagos, assim como outdoors e anúncios em jornal. Barack Obama, que arrecadou quase US$ 1 bilhão, na campanha mais cara da história americana, gastou cerca de US$ 280 milhões somente com os anúncios de tevê.

“No Brasil o sistema é misto, porque as doações são privadas, mas há os anúncios gratuitos nas tevês, que são ressarcidas pelo Estado”, diz Amorim Neto. Este ano, a Receita prevê gastar R$ 851 milhões no pagamento aos canais que vão veicular os programas.

É o equivalente a 0,75% do orçamento de renúncias fiscais do ano, mais do que será gasto com o ProUni e metade do total destinado ao setor automobilístico. A campanha presidencial deve custar cerca de R$ 450 milhões, de acordo com a previsão de arrecadação dos três principais candidatos.

Como candidato a deputado federal, o vice de Serra arrecadou R$ 838,6 mil em 2006. Costa é sobrinho do presidente do banco Cruzeiro do Sul e já namorou a filha do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, do falido Banco Marka.