Na noite da quinta-feira 7, o peruano Mario Vargas Llosa se tornou, aos 74 anos de idade, o 11º escritor de língua espanhola a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura. Quase três horas depois do anúncio da Academia Sueca, ele ainda não acreditava que poderia ser verdade. “Deve ser uma brincadeira”, disse ele, por telefone, a um jornalista colombiano. Aqui no Brasil, o mercado editorial sabia que não era. Antes mesmo de Llosa se dar conta de que se tratava de um fato real, a Livraria Cultura já havia feito o pedido de um grande lote de seus romances mais conhecidos, como Travessuras da menina má, A fuga do inca, A casa verde e A guerra do fim do mundo. “Temos de estar preparados. 

 

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Mario Vargas Llosa: o autor reage com surpresa, embora merecesse o Nobel há vários anos.

“Pensei que tinham me esquecido”

 

Quando as lojas abrirem, a procura será enorme. No fim de semana, as vendas serão maiores ainda”, disse o diretor de acervo da rede, Alexandre Fonseca. Até o momento da divulgação do Nobel 2010, a Livraria Cultura mantinha um estoque de apenas 100 exemplares de Llosa nas prateleiras – o que significaria para a empresa perder uma oportunidade de faturamento. No ano passado, a Livraria Cultura vendeu em apenas um dia mais de dois mil exemplares de obras da alemã Herta Mueller, vencedora do Nobel 2009.

 

Além do prêmio de US$ 1,5 milhão em dinheiro da Academia Sueca, Vargas Llosa deverá ser o nome mais procurado nas livrarias do mundo todo nos próximos meses. Seus 30 romances escritos em quatro décadas já lhe renderam a venda de mais de seis milhões de exemplares e uma fortuna estimada em US$ 23 milhões em direitos autorais. 

 

Embora não esteja nem na lista dos 20 escritores mais vendidos no Brasil (as dez obras disponíveis no País, publicadas pela Editora Objetiva, atingiram a tiragem de 179 mil exemplares), Llosa é considerado herói em vários países de língua espanhola, desde a Argentina até o México, além, evidentemente, da própria Espanha. 

 

“Mais que merecido, é um Nobel tardio, pela amplitude, originalidade e qualidade da obra de Vargas Llosa. Além de ser um grande romancista, ele é um intelectual versátil, lúcido e erudito, que acompanha a política latino-americana com um olhar sempre original”, disse Roberto Feith, presidente da Editora Objetiva, que pretende trazer outros romances do escritor peruano ao consumidor brasileiro.

 

O Nobel de Vargas Llosa deverá render dividendos a outros escritores, em especial García Márquez e Pablo Neruda, que também conquistaram o Prêmio Nobel e se tornaram referência para a literatura latino-americana. 

 

“O brasileiro culto, que gosta realmente de ler, se identifica com Vargas Llosa, um amigo há mais de 40 anos”, disse à DINHEIRO a escritora Nélida Piñon. “Nesse mundo sem valor, tão improvisado, o reconhecimento ao trabalho de Llosa é uma homenagem a todos nós.”