Token Não-Fungível. “Não poderiam ter pensado em um nome mais confuso para se explicar algo que já é confuso”, diz Daniel Chor, CEO da Tropix.io, brincando com o termo NFT, que define seu negócio, o de “arte digital”, se quisermos simplificar um pouco esse novo setor de milhões de dólares. O empresário está em uma nova jornada em sua diversificada carreira e o termo “herdeiro da Multiplan”, empresa com mais de 20 shopping centers no País e valor de mercado de US$ 12 bilhões, poderíamos tentar tirar, mas no mundo dos negócios uma árvore genealógica assim tem raízes profundíssimas. Ainda mais quando o jovem de 28 anos vê na figura do avô e fundador da incorporadora, o CEO José Isaac Peres, 81, uma grande referência. “Sempre fui muito próximo, aprendi muito com ele”, afirmou à DINHEIRO. “Não seria o que sou sem seus ensinamentos. A diferença entre nós é que sou mais ansioso, angustiado e caótico.”

Chor começou a trabalhar em vendas na Multiplan de Miami, em 2018, e pouco depois passou para o setor de Inovação e Negócios Digitais da empresa. Além da paixão por animais e ser cofundador de uma empresa de venture capital que ajuda startups a eliminar o uso de animais na indústria, a Lifely, o foco mesmo é esse novo mercado de “escritura digital”, ou registro único por meio da blockchain — livro central que cataloga transações financeiras. Ou seja, no mundo digital você comprou obra tal (ou qualquer bem, como uma música), tá registrado lá, imutável. Garante autenticidade, o que é um ativo e tanto num mercado em que falsificações primorosas não são raridades.

PINTURA DIGITAL Ao lado, recorte de Homem Verde, de Vini Naso, que saiu por R$ 58 mil. (Crédito:Divulgação)

INVESTIDORES O negócio de Chor teve seu maior investimento na primeira rodada de seeding feito pela Mercado Bitcoin, corretora de criptomoedas, e somou US$ 2 milhões. Ele tem como parceiros Bernardo Schucman, um dos grandes nomes da mineração de bitcoins no País, o venture builder Alexandre Icaza e o investidor em projetos no Vale do Silício Guilherme Nigri. Com esses nomes de peso, para 2022 a Tropix prevê um pipeline de 1 mil obras e participação em feiras internacionais. “NFT é a tecnologia que vai afetar todas as indústrias”, disse.

A Tropix é onde Chor tem seu tempo e coração, como um marchand dos novos tempos. Segundo ele, o objetivo é ser uma comunidade next channel voltada a quem ama arte acima de tudo. E, ao mesmo tempo, uma flagship para a Pixway, “que é nossa tokenzinadora”, feita para o B2B da indústria. “Ou seja, possibilitamos que empresas usem NFTs para beneficiar seu dia a dia, de seus colaboradores, stakeholders e clientes.”

Chor é fã dos mais valorizados artistas da NFT, como Beeple (Everydays:The First 5000 Day, por US$ 69,3 milhões), Fvckrender, Refik Anadol, Hackatao, e brasileiros como Vini Naso, Uno, Fesq, que têm tido sucesso no exterior. Ah, vale citar a obra mais cara até o momento: The Merge, the Pak, vendida por US$ 91,8 milhões. A clássica questão é: qual o valor dessa nova arte? “O quanto o outro quer pagar”, afirmou Chor.

PAIXÃO PELO NEGÓCIO Daniel Chor e um detalhe congelado da fotografia multidisciplinar O Mundo das Ideias, de Marcelo Tinoco. (Crédito:Divulgação)

Algumas vendas brasileiras recentes da Tropix mostram o claro casamento entre a arte e a criptomoeda: a arte digital Homem Verde, de Vini Naso, foi adquirida por 3,52496813 ETHs, sendo esses números todos mais ou menos R$ 58 mil — um pintor moderno estabelecido no mundo real tem obras, em tamanho médio, perto desse valor, apesar de ser um mercado também cheio de relatividades. A pintura digital Erratum 1, de Eduardo Kac, saiu por 3,7 ETHs, ou R$ 61 mil. Succubus, imagem-vídeo 4K de Monica Piloni, por 0,5985 ETHs, ou R$ 10 mil.

Mas onde o colecionador colocará obras “não-palpáveis”? Em telas digitais como a The Frame, da Samsung, overlays de Realidade Aumentada e instalações de vídeo/led walls. Vai chamar a atenção.