Nos últimos sete anos o governo federal gastou mais de R$ 74 bilhões com segurança pública. Os números, que cresceram em média 7% ao ano, infelizmente não resultaram em redução da criminalidade, mas se refletiram em, aumento da letalidade das ações policiais. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelados quinta-feira (15), o número de mortes causadas por policiais brasileiros saltou 84%, passando de 3.330 em 2015 para 6.146 em 2020. Ou seja: a polícia tem recebido mais recursos públicos para manter a segurança dos brasileiros, mas o que ela faz é matar mais gente.

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Segundo o estudo, 78% das mortes eram de jovens negros. O dado reflete o racismo sistêmico que o Brasil precisa combater o quanto antes. Quando analisado profundamente, o número revela impactos diretos no andamento da economia. Um levantamento da Organização das Nações Unidas em 2020 mostrou que pelo menos 85% dos jovens que se envolvem no tráfico o fazem com o argumento de precisar ajudar financeiramente a família. Uma força de trabalho desperdiçada.

No estudo, foi avaliado que um jovem com idade entre 18 e 28 anos que se envolve com o tráfico de drogas, caso tenha o ensino médio completo, poderia gerar uma renda anual entre R$ 15 mil e R$ 25 mil ao ano no mercado formal. Isso representa, por pessoa, uma arrecadação de impostos entre R$ 3,3 e R$ 5,5 mil.

O impacto econômico também é grande na saúde. Só para tratar de ferimentos com arma de fogo, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca de R$ 50 milhões ao ano. Boa parte desse recurso vai para salvar feridos em conflitos armados envolvendo polícia e traficantes.

Com a flexibilização do porte de arma realizada pelo governo Bolsonaro, estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros que não tinham acesso a armas de fogo agora terão. Segundo dados da Polícia Federal, o número de brasileiro que pediram registro de arma nos últimos 12 meses até fevereiro cresceu 97%.

Carlos Piagentini, professor de políticas públicas e doutor em organização social, realizou um levantamento para a Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre os caminhos da arma depois de chegar (legalmente) ao cidadão comum. Segundo o estudo, cada pessoa com porte de arma expõe, em média, o equipamento para oito pessoas. “Há ainda a conclusão de que 29% das pessoas armadas há mais de 12 meses foram alvo de roubos e, destas, 78% perderam a arma”, disse. Quando a arma deixa a legalidade, os problemas escalonam e seu uso e apropriação perdem o lastro. “Elas podem ser usadas pelo crime organizado, pela milícia ou até mesmo por policiais em conflitos letais”, disse. No olho por olho, todo mundo sai cego.