A crise econômica, para além das estatísticas, tem feições muito duras e visíveis nos rostos dos trabalhadores desempregados, dos empreendedores em dificuldades, dos investidores receosos. Nos últimos dias o governo quis comemorar alguns feitos, como o aumento da geração de vagas e até mesmo a perspectiva de um (tímido) crescimento do PIB. O maior motivo dos festejos foi o surgimento de 121 mil postos de trabalho em agosto, no melhor resultado para esse mês em seis anos. Tomada em sua real dimensão, a notícia caiu como um pingo d’água no oceano de 12,8 milhões de desempregados ou mesmo no universo de mais de 60 milhões de brasileiros (incluindo familiares) que estão no momento sem nenhuma renda para sobreviver.

A conquista dos 121 mil postos também é pouco maior que as 110 mil verificadas no mesmo mês do ano anterior. Assim, quase que por inércia, o número não faz frente sequer ao crescimento populacional no período, numa aguda piora proporcional do quadro. Da mesma maneira, sem tirar nem por, o Governo saudou o primeiro mês de retomada dos índices da indústria após um trimestre de seguidas quedas da produção. Embora represente a virada de rota, a indústria brasileira vai amargando aquele que é talvez o mais sombrio período de sua história de atividade.

Em cinco anos a produção industrial brasileira caiu perto de 15% enquanto a do restante do mundo avançou 10%. Isso gera, por consequência, perda de competitividade, de eficiência, de tempo e, por que não dizer, de muito dinheiro. O parque fabril encolhe porque a economia patina. A demanda é baixa, a oferta tem de ser reduzida e o ciclo perverso de recessão toma conta. O País está saindo aos poucos dele, mas nessa jornada as exportações desabaram, greves como as dos caminhoneiros no ano passado aguçaram os efeitos da paralisia e as autoridades seguem inertes, sem plano ou movimentação para mudar o ciclo do processo.

O ministro Paulo Guedes, em recente entrevista, saudou o fato de o Brasil poder crescer mais de 2% em 2020, pelas contas dele. O próprio Banco Central fala em 1,8%. As variações de índice no caso alteram pouco o cenário. Para liquidar o déficit de emprego e alcançar níveis de plena atividade será necessária, nesse ritmo, uma década inteira. Na verdade, ao se alcançar esse patamar, o País terá retornado ao quadro de 2006, quando se experimentava por aqui taxas de crescimento de 4% ao ano. A pergunta que fica no ar é qual o nível de retomada do PIB para se queimar etapas e recuperar o tempo perdido? A equipe econômica diz que ainda demora para um crescimento na faixa de 3,5% a 4%. Não apresentou um programa sustentável nesse sentido e vai festejando pequenas conquistas como se fossem a panaceia. Os eleitores esperavam mais.