Além dos fatores ambientais — de natureza urgente — o acordo de metas fechado por 100 países, Brasil inclusive, que tenta conter o aumento de temperatura da Terra a, no máximo, 1,5 grau Celsius, requer mais do que meras intenções e esforços de conscientização dos povos no mundo. Exige dinheiro. Muito dinheiro! E também implica uma verdadeira revolução no modus operandi predominante até aqui. A começar pela ideia de reduzir o desmatamento a zero até 2030. Exatamente como fazer isso? O Brasil, para ficar no caso que nos afeta diretamente, não apenas atrasou o processo de controle da prática como, ao contrário, na gestão do atual governo, incrementou e até incentivou tais episódios, desmantelando as agências controladoras da biosfera e fazendo vista grossa a madeireiros e garimpeiros que avançaram, inclusive, sobre terras indígenas. Reverter essa onda custará muito, não apenas em fiscalização. Não há recursos previstos no orçamento federal para tanto. Nem em 2022. O País está sendo sistematicamente cobrado pelos parceiros. Especialmente pelos EUA. E somente assinou os termos da Conferência da COP-26 por pressão americana, sob pena de perder contratos milionários. A enrascada cresce de tamanho e, nesse caso, para todo o planeta, quando se fala na redução de 75% do uso de combustíveis fósseis até 2050. Em outras palavras, em um hiato de menos de três décadas a expectativa é de um quase sumiço dos carros movidos a gasolina ou diesel. Já existe a alternativa dos veículos elétricos, ok, mas como fazer com os aviões, navios e outros meios de transporte ainda predominantemente dependentes dessa opção? O custo para tamanha transição é imensurável. A secretária executiva da Convenção do Clima, Patricia Espinosa, disse que terão de ser mobilizados trilhões de dólares, em um engajamento total das nações. “Ou optamos por reconhecer que o ‘business as usual’ não vale o preço devastador que estamos pagando e fazemos a transição necessária para um futuro mais sustentável ou aceitamos que estamos investindo em nossa própria extinção.” Pelo tom dos demais discursos na Conferência — nenhum deles mais ameno que esse — a realidade chegou a um ponto dramático. António Guterres, secretário-geral das Nacões Unidas (ONU) veio a decretar: “Estamos cavando nossas sepulturas”. E o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, no mesmo tom, alertou que o mundo está a “um minuto da meia-noite para reverter o desastre climático”. No plano das contas, a estimativa é que cada País chegue a gastar ao menos 10% de seu PIB em ações atenuadoras do processo. Há uma iniciativa em andamento para que países desenvolvidos mobilizem cerca de US$ 100 bilhões a serem destinados aos mais pobres em recursos para questão climática. O valor é tido como uma gota d’água. O climatologista brasileiro Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em Amazônia, alerta que nesta década será decidido o futuro da humanidade e que todos os esforços precisam ser feitos nesse sentido. Uma questão sobressai no momento: o governo Bolsonaro, que em nenhum momento expressou qualquer preocupação maior com o tema, parece mais interessado em capturar os recursos que venham de fora (talvez para realocá-los em outras prioridades) do que propriamente em organizar uma força-tarefa que trabalhe a questão, algo vital considerando que o Brasil é tido como o pulmão do mundo.

Carlos José Marques Diretor editorial