O atual embate entre Rússia e Ucrânia tem levantado questões sobre seus impactos sociais, financeiros e políticos. E como ficam os aspectos econômicos de uma nação após enfrentar um período de guerra?

Para analisar essa questão, os especialistas do buscador de investimentos Yubb realizaram um levantamento considerando os principais períodos de guerras pontuais da Guerra do Vietnã até o conflito recente.

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Nessa pesquisa analisamos qual foi a queda de um indicador específico, o índice de ações americano S&P 500, provocada pelo início dos conflitos, e quanto tempo demorou para que o índice retornasse aos níveis anteriores ao início dos conflitos.

Uma das primeiras conclusões é que, comparativamente, as guerras pontuais prejudicam menos os mercados. Os conflitos mundiais são mais danosos. Isso acontece porque, durante as guerras mundiais, os ciclos econômicos são interrompidos, as cadeias produtivas são desestabilizadas e a ordem global é alterada.

Já as guerras pontuais não demoram o suficiente para exercerem influência sobre os resultados de grandes empresas listadas e, portanto, não afetam a bolsa de valores.

Por isso, a Guerra do Vietnã, que começou a pressionar as cotações para baixo ainda em 1959, foi o embate que levou o maior tempo para o S&P 500 se recuperar após a queda. Ao todo foram 1.017 dias, pouco mais de dois anos e três trimestres. E a queda foi relativamente pequena em comparação com as demais, 14,6%.

A Guerra do Golfo, travada entre Estados Unidos e Iraque, foi a que provocou o impacto mais intenso sobre o mercado, com uma baixa de 20,2%. E apresentou a segunda recuperação mais demorada. O S&P 500 levou 211 dias, mais de dois trimestres, para retornar aos níveis anteriores à queda.

Bernardo Pascowitch é fundador e CEO do buscador de investimentos on-line Yubb

Apesar de ter sido um ataque ao território americano e de ter motivado duas campanhas militares, a guerra do Afeganistão em 2001 e a Guerra do Iraque em 2003, o atentado ao World Trade Center e ao Pentágono no dia 11 de setembro de 2001 não foi exatamente uma guerra. Mesmo assim, provocou a terceira maior baixa no S&P 500f, uma queda de 12,8%. Porém, a reação rápida do banco central americano, que injetou muita liquidez no mercado, fez com que o período de recuperação fosse curto. As cotações retornaram aos níveis anteriores ao ataque em apenas 53 dias.

Os conflitos seguintes foram travados entre a Rússia e as repúblicas da antiga União Soviética. A guerra contra a Georgia, em 2008, passou praticamente desapercebida. A queda do S&P 500 foi de apenas 1,8% e o mercado se recuperou em sete dias. Já o conflito com a Ucrânia pela Crimeia, em 2014, fez o mercado cair 6% e a recuperação levou 92 dias.

Agora, o novo ataque russo à Ucrânia causou uma queda de 7,6%. Como a liquidez global permanece abundante, espera-se uma recuperação relativamente rápida. Porém, há uma diferença com os conflitos anteriores. Em 2014, as criptomoedas não eram tão populares quanto são hoje. Tendo em vista a correlação atual do Bitcoin com o S&P 500, o mercado cripto tende a seguir esse mesmo movimento de leve queda e rápida recuperação. No entanto, vale lembrar que o Bitcoin não passou por muitas guerras, então, ainda estamos entendendo como ele se comporta frente a tensões globais.

AnoGuerraS&P500Dias para recuperação 
1959Guerra do Vietnã-14,62%1.017
1962Crise dos mísseis em Cuba-9,06%23
1990Guerra do Golfo-20,22%211
1992Guerra da Bósnia-3,21%186
1998Guerra do Kosovo-2,20%4
19992ª Guerra na Chechênia-10,57%77
200111 de setembro-12,85%53
2001Guerra do Afeganistão-2,56%29
2003Guerra do Iraque-5,53%32
2008Guerra Russo-Georgiana-1,92%7
2014Invasão na Crimeia-6,01%92
2022Guerra da Ucrânia-7,62%???

Devemos considerar, também, que o atual momento é peculiar no sentido de estarmos enfrentando os resultados econômicos e financeiros da pandemia do coronavírus: a inflação global está nos maiores níveis dos últimos 40 anos, as políticas monetárias nacionais apontam para o seu endurecimento (com escassez de crédito), a cadeia de suprimentos global está instável, o petróleo em cotações máximas dos últimos anos, entre outras questões. Nesse sentido, a guerra pode prejudicar fortemente o cenário econômico global e, eventualmente, aprofundar a queda do S&P 500.