ELES SE DERAM BEM NA BOLSA. E, PARA contar ao mundo sua experiência, escreveram livros que em pouco tempo viraram best sellers e guiaram jovens investidores rumo aos céus da boa rentabilidade e dos dividendos. Alguns deles são convidados para dar palestras, outros prestam consultoria financeira e há também os que dão aulas sobre mercado financeiro. No entanto, até mesmo os autores dos livros mais vendidos de finanças pessoais estão passando por apuros com a queda da Bolsa. Assim como qualquer mortal, acumulam prejuízo na carteira e estão apreensivos quanto ao futuro do mercado. Apesar da turbulência, continuam confiantes nos ensinamentos que pregaram em seus próprios livros. “Nada mudou. Meu planejamento atual se espelha em um planejamento que fiz com base na crise de 2002, quando Lula foi eleito. Assim como aquela, a crise que vivemos hoje é uma crise de confiança. O mercado sofre, mas nossas empresas continuam fortes”, afirma Gustavo Cerbasi, que chegou a vender mais de 500 mil cópias de seu livro Casais inteligentes enriquecem juntos (Editora Gente, R$ 30).

Cerbasi é talvez o mais otimista dentre todos. Com cinco livros no currículo, o administrador chegou ao seu primeiro milhão aproveitando uma crise para comprar ações. Com isso, conseguiu aumentar seu número de papéis e, conseqüentemente, o valor que recebe em dividendos. Sua carteira de investimentos antes da turbulência era dividida igualmente entre renda fixa, imóveis e ações. “A parte em ações teve desvalorização de 50% desde maio, então eu aproveitei para comprar mais”, conta. Com a realocação de suas aplicações, Cerbasi agora tem 35% de seu patrimônio em renda variável, 10% em renda fixa e o restante em imóveis. “Com a crise, a perda total da minha carteira foi de aproximadamente 12%”, diz o consultor, que investe apenas em empresas de primeira linha, mas não quis informar quais papéis costuma comprar. Cerbasi acredita que, em uma visão realista, o investidor conseguirá recuperar a rentabilidade perdida dentro de cinco anos. De acordo com sua avaliação, o impacto da crise nas empresas será menos lucro e menos crescimento, por isso a retomada dos papéis pode ser mais longa. Enquanto isso, Cerbasi classifica o momento como ideal para comprar bons papéis. “Em uma visão egoísta, para mim seria interessante que a crise durasse mais tempo. Pois hoje posso comprar muito mais papéis do que costumava comprar. E pensando em dividendos, o momento é muito bom”, afirma.

A estratégia de acumular a maior quantidade de ações possível em busca de bons dividendos também foi a escolhida por Maurício “Bastter” Hissa, médico, criador do site Bastter.com.br e autor dos livros Sobreviva na Bolsa de Valores e Investindo em opções (Ed. Campus Elsevier, R$ 49 e R$ 41,50). Em um ano, seu livro que desmistifica o mercado de opções vendeu mais de 30 mil exemplares. Bastter, que curiosamente utiliza o nome de seu próprio cachorro (um pastor alemão branco), tem uma visão cética sobre a crise. Afirma que faz parte da rotina da Bolsa passar por momentos de turbulência. “O que eu nunca tinha visto era a Bolsa subir cinco anos seguidos”, pondera. Para ele, não há nada de absurdo acontecendo no mercado. “Quem entra na Bolsa tem que saber que a queda existe. Obviamente é um cenário duro, mas o investidor que faz as coisas corretamente não está em situação complicada”, diz. Investir corretamente, segundo Bastter, é aplicar na Bolsa somente o dinheiro que não será usado no curto e médio prazo, e tal capital deve compor apenas uma pequena parte do patrimônio do investidor. Em sua carteira, composta por empresas como Petrobras, Vale, Bradesco e Usiminas, Bastter não sabe qual é o prejuízo acumulado. “Eu avalio a solidez das empresas e monto a carteira para tirar renda dela no futuro. Não me interessa o preço”, conta. Ele possui 50% de seu patrimônio na Bolsa e a outra metade em imóveis, renda fixa e moeda estrangeira. Quando recebe dividendos, utiliza-os para a compra de novas ações e, sempre que possível, faz venda coberta de opções para proteger sua carteira. “Progressivamente, com mais papéis, recebo mais dividendos e tenho a possibilidade de fazer vendas cobertas maiores”, diz.

Já o casal Marco Falcone e Regina Tesima, ambos engenheiros que vivem em Curitiba, está um pouco mais preocupado. No início do ano, lançaram o livro Como chegar ao seu primeiro milhão (Ed. Campus Elsevier, R$ 41,50), no qual contavam sua experiência sobre como haviam alcançado o título de milionários. Agora, acumulam 50% de desvalorização em sua carteira de ações, tombo que reduziu, e muito, seu patrimônio. Investidores de Vale, Petrobras, Bradesco, WEG, Duratex e JBS Friboi, Regina e Falcone se desfizeram de algumas posições, como Gol, para reforçar as que já tinham. Assim como os demais, estão aproveitando o dinheiro poupado mensalmente para comprar mais papéis. Em 2002, quando Lula foi eleito e o mercado desabou, o casal não fez como Cerbasi e não se deu tão bem. “Tínhamos R$ 100 mil e investimos tudo em um imóvel. Agora, aprendemos a lição e estamos utilizando a sobra mensal para comprar mais papéis”, explica Falcone. O que muda para o casal é o prazo para se aposentar. Falcone estava planejando seus investimentos para poder se aposentar aos 48 anos (ele tem 38). “Agora, vou ter que trabalhar dois ou três anos a mais”, diz. Regina acredita nas empresas em que investe e acha que não faz sentido o mercado derreter da maneira que está acontecendo. “As empresas estão apresentando bons resultados. Continuam boas empresas”, diz. Rafael Paschoarelli, professor de finanças da USP e autor do livro Como ganhar dinheiro no mercado financeiro (Ed. Campus Elsevier, R$ 48), engrossa o coro de compradores e acredita que a recuperação brasileira virá mais rápido do que se imagina. “Nossa economia não está atolada em crédito ruim. O crédito aqui é saudável e nossas perspectivas são melhores”, estima. “Estou comprando”, finaliza.