Montblanc: os cestos de bogoió, típicos do Piauí, ganharam toque fashion com apoio de designers, assim comos colares de pneu (dir.). Acima à dir., os presidentes da Fundação Montblanc, Till Fellrath e Sam Bardaouil (Crédito:Tatiana Cardeal e Divulgação)

Em 1992 a Montblanc, grife alemã famosa por suas canetas estilosas e caríssimas, criou o que é hoje considerada sua maior joia: a Fundação Cultural Montblanc. Nesses 27 anos, a entidade entregou 300 prêmios em 17 países e já doou quase cinco milhões de euros para projetos culturais. O Brasil, no entanto, entrou na mira da marca apenas em 2016, quando passou a fazer parte da lista de países participantes do Prêmio Montblanc de Cultura (Arts Patronage Award). “Há muitos artistas incríveis trabalhando em todo o mundo e, com muita frequência, infelizmente, a atenção é voltada principalmente para centros autoaclamados como Nova York, Paris ou Londres”, dizem Sam Bardaouil e Till Fellrath, presidentes e coordenadores de curadoria da fundação cultural. “Desde que assumimos a presidência, em 2016, achamos que era importante refletir a presença global da Montblanc.

O Brasil em particular tem grandes artistas e estamos muito satisfeitos”, complementam. Desde então, a fundação premiou projetos dos cineastas Laís Bodansky e Luís Bolognesi (Cine Mambembe), da diretora Solange Farkas (Videoarte Brasil) e da pintora Mônica Nador (JAMAC,Jardim Miriam Arte Clube). Este ano, o reconhecimento foi para o arquiteto Marcelo Ronsebaum com o Várzea Queimada, projeto que nasceu em 2012 e já levou cerca de 40 profissionais de design para o Piauí, no semiárido nordestino, para trabalhar in loco com os artesões locais. A idéia é transformar o artesanato da região, feito com palha, plástico e borracha, em produto com valor agregado. Os pneus, antes usados apenas para fazer chinelos, hoje viram acessórios diversos, como colares, anéis e pulseiras, todos com design inspirado na paisagem e vegetação local. Já o “bogoió”, cesta de palha antes usada para armazenar mantimentos, ganhou ares fashion com ajuda dos designers.

As criações estamparam uma campanha fotográfica com a modelo Carol Trentini e conseguiram espaço na cenografia do SPFW. “Temos uma forte motivação para continuarmos apoiando as artes no Brasil”, dizem Sam Bardaouil e Till Fellrath.

Recentemente, a fundação também apoiou o trabalho do desenhista nigeriano Ruby Onyinyechi Amanze na 33ª Bienal de São Paulo e os artistas filipinos Katherine Nuñez e Issay Rodriguez na 57ª Bienal de Veneza. Esses e outros talentos fazem ou já fizeram parte de outro programa da Montblanc, o Cutting Edge Art Collection, que comissiona financeiramente artistas plásticos emergentes. Já passaram por este programa nomes hoje renomados como Jean Marc Bustamante, Thomas Demand, Fang Lijun, Stephan Huber, Jonathan Meese, Jorge Pardo, Daniel Pflumm e Sylvie Fleury. A sede da Fundação, em Hamburgo, expõe parte das 210 obras dos 170 artistas apoiados desde 2002.

Cartier: instalações de video de Pierrick Sorin (acima no detalhe redondo) e as obras hiper-realistas do escultor australiano Ron Mueck, ambos apoiados pela Fundação Cartier (Crédito:Divulgação)

Outra marca que tem ajudado a lançar artistas no cenário internacional é a francesa Cartier. Desde 1984, quando foi criada a Fondation Cartier pour l’art contemporain (Fundação Cartier Pela Arte Contemporânea), a grife tem apoiado o trabalho de artistas de todos os campos e gêneros da arte contemporânea. Atualmente, a Cartier possui uma coleção de mais de 1,6 mil obras de 350 artistas de todo o mundo em seu acervo, incluindo trabalhos do fotógrafo brasileiro Alair Gomes. “O comissionamento é uma forma construtiva de apoiar os artistas, patrocinando a criação de um único trabalho, uma série de obras ou uma exposição completa”, diz em nota a Fundação. Em 1994, por exemplo, a Fondation Cartier encomendou uma instalação de vídeo monumental de Pierrick Sorin, que se tornou um videoartista de renome em todo o mundo. Em 1998, Patrick Blanc se tornou conhecido com a exposição Être Nature e por desenhar o jardim vertical da fachada de vidro no novo edifício da Fundação, que deixou Versalhes por uma estrutura moderna projetada por Jean Nouvel em Paris.

Em 2005, a Cartier levou ao público francês as esculturas hiper-realistas do australiano Ron Mueck, que ganhou fama e exposições em todo o mundo, inclusive no Brasil. “Cartier tem obtido grande sucesso na descoberta de novos talentos e sido um trampolim para jovens artistas que exibem pela primeira vez ou para aqueles até então desconhecidos na Europa”, diz nota. “A Fundação ajudou muitos deles a alcançar o reconhecimento internacional.”

Rolex: sentido horário, a partir do alto: a artista plástica Joan Jonas; a protegida dela, Thao-Nguyen Phan e suas pinturas;Alfonso Cuarón com Chaitanya Tamhane; e o cenário do filme “Roma”, de Cuarón, com colaboração do jovem cineasta indiano (Crédito:Divulgação)

OS PROTEGIDOS DA ROLEX Em 2002, a Rolex, fabricante suíça de relógios de luxo, também começou a apoiar a arte e a cultura, mas de forma diferente. A cada ano, um conselho formado por artistas renomados convida nomes consagrados de diversos campos – literatura, arquitetura, cinema, música, dança e artes plásticas – para participar do Rolex Mentor Protege Arts Initiative, programa de mentoria para jovens artistas. Já participaram do programa 50 artistas e 50 mentores de várias partes do mundo. Em 2012, a Rolex escolheu o músico brasileiro Gilberto Gil para ser “tutor” da cantora indiana Dina El Wedidi. Nesse programa, o artista consagrado trabalha com o seu “protegido” durante um ano.

Em 2018, o diretor mexicano Alfonso Cuarón, vencedor do Oscar com Gravidade (2013), recebeu a missão de compartilhar sua experiência com o jovem cineasta indiano Chaitanya Tamhane, considerado, pela revista Forbes, um dos mais promissores cineastas do mundo com menos de 30 anos. Tamhane já conquistou mais de 30 prêmios em festivais em todo o mundo. Ao lado de Cuarón, ele acompanhou todo processo de Roma (2018), filme do diretor mexicano criado para a plataforma de streaming Netflix. Nas artes plásticas, Joan Jonas, artista americana pioneira em vídeo e performance art, considerada a mais importante do final dos anos 60, foi mentora da vietnamita Thao-Nguyen Phan. Assim como Joan, o trabalho da jovem é multimídia, combinando pintura, vídeo, performance e instalação. Thao-Nguyen Phan já expôs amplamente seus trabalhos no sudeste da Ásia, incluindo sua primeira exposição individual, Amônia Poética (2017), na cidade de Ho Chi Minh.