O carnaval sempre foi a “melhor época do ano” para a empreendedora de turismo Cintia Ramos, de 29 anos, adepta tanto das escolas de samba quanto dos blocos de rua. Há dois anos, contudo, ela começou a repensar o impacto da festa para o meio ambiente. Por isso, foi atrás de alternativas mais sustentáveis, mas igualmente coloridas. “Vi que tinha alternativas tão lindas e maravilhosas quanto, e está mais fácil”, garante.

Na maquiagem, Cintia aposta no glitter biodegradável, fixado com óleo de coco, que divide com as amigas. O confete, ela mesma faz, utilizando um furador em folhas secas – mesma matéria-prima do adereço que utiliza na cabeça. Além disso, se fantasia com peças que já tem no guarda-roupa e usa um copo reutilizável.

A fotógrafa Cris Tronco, de 32 anos, também é adepta do carnaval com menos lixo à vista. No bloco que foi semanas atrás, em Porto Alegre, decorou a roupa com retalhos de tecido e lantejoulas de um colar arrebentado. “Já tenho pastinha no armário com itens de anos anteriores. Não compro nada já faz dois, três anos. Reutilizo de amigos que não vão mais usar.”

Já a cantora e cicloativista Filó Silva, de 58 anos, é adepta do carnaval sustentável já na organização do bloco, que realiza na zona sul paulistana. Há quatro anos, foi uma das fundadoras do Bloco do Pedal, cujo sistema de som é movido por meio da utilização de bicicletas instaladas sobre uma estrutura. Além disso, o movimento dos pedais também aciona a liberação de gotículas de água, para refrescar os participantes.

“É uma forma de a gente também oferecer para as pessoas que gostam de pedalar uma coisa diferente, um pouco mais tranquila”, diz ela, que calcula um público médio de 380 pessoas nos desfiles, que começaram há quatro anos e já ocorreram em 2019. “Todo mundo tem curiosidade, quer subir, pedalar. Não precisa nem saber andar, não cai.”

Também na região sul, o Chucrute Zaidan vai ter pontos de coleta de lixo eletrônico no desfile de sábado, nas proximidades da Avenida Chucri Zaidan. Segundo o empresário Giliardi Pires, de 38 anos, fundador, a ideia surgiu porque o bloco atrai principalmente pessoas que trabalham na área de tecnologia. “É uma tecnofolia.”

No Rio, o Vagalume O Verde usa fantasias e estandarte produzidos a partir de peças de escolas de samba e, também, distribui ecobags feitas de banner reciclado para os foliões guardarem o lixo. Na confecção, são usadas amarras para evitar o consumo de energia das máquinas de costura.

“É um caminho que não tem volta, cada vez mais a gente vai abraçar essa causa. A festa provoca um impacto muito grande”, afirma Hugo Camarate, fundador do bloco.

Produtos

Com a procura, empreendedores e ativistas têm investido em alternativas que impactam menos o meio ambiente. Dentre elas, a mais popular é o bioglitter, que hoje é produzido por mais de dez marcas distintas no País, além de fabricantes caseiros. Os preços variam de R$ 8 a cerca de R$ 30.

A marca carioca Glitra vende a purpurina já misturada com cremes e óleos, como se fosse uma maquiagem brilhosa, o que facilita a aplicação. Segundo a criadora, Maíra Inâe, a ideia surgiu antes do carnaval passado e, mesmo em cima da hora, teve grande demanda. Feito com base em celulose, o produto é vendido na internet, com demanda maior no Rio e em São Paulo e durante o verão. “O fluxo está crescendo, aumentou uns 30% em um ano.”

Já a estudante de Moda Cibele de Castro, de 28 anos, faz ecoglitter a partir do pó de mica, uma substância de menor impacto ambiental que o plástico, mas não biodegradável. Além disso, também produz pequenas estrelas produzidas com o mineral misturado com batata, amido e glicerina. Segundo ela, a procura maior é de mulheres jovens entre 20 e 30 anos. “Quero lançar com outros formatos também, de coração, estrelas maiores, fazer gel brilhoso com glitter”, conta a criadora da Key Piece.

Além do glitter, fantasias e adereços também só são comercializados com opções feitas a partir de materiais reaproveitados, como sobras de tecidos. Há, ainda, quem utilize material orgânico nos enfeites, como Carol Ikeda, de 38 anos, do Ateliê Pitanga, que faz arranjos a partir de flores secas, com preço a partir de R$ 45.

Tenho floricultura há dois anos e meio, comecei a secar como uma forma de minimizar as perdas. Passei a fazer arranjos e, daí, surgiu o carnaval e comecei a usar flores nas tiaras”, diz Carol. “A gente pode, sim, fazer bonito sem agredir o meio ambiente, conscientemente, e também com custo baixo.”