O voo da Avianca Brasil se aproxima de um pouso forçado. A empresa, um sonho do empresário José Efromovich que virou realidade em 2002, pode desaparecer. A Avianca chegou a fazer frente à antiga TAM (atual Latam) e à Gol, conquistando a quarta posição no setor de aviação comercial, com 13,6% de participação nos voos domésticos e 7% nos internacionais operados por brasileiras. Neste ano, vinha operando com 38 aeronaves e cerca de 70 autorizações de pousos e decolagens (slots) em 14 aeroportos.

No pico, a Avianca chegou a trabalhar com 60 aviões. Nas últimas semanas, dois episódios simbolizaram o drama da aérea. No dia 5, após um avião de sua frota ser penhorado por oficiais de justiça no aeroporto de Brasília, passageiros e tripulantes, que já tinham embarcado, foram obrigados a sair da aeronave na pista. Outro capítulo ocorreu no dia 9, quando os aeroportos de Porto Alegre e Fortaleza determinaram que a Avianca só poderá pousar e decolar depois de pagar antecipadamente as taxas de utilização.

José Efromovich: o sonho de voar do empresário virou um pesadelo de dívidas (Crédito:Pedro Dias / Ag. Istoé)

Para sair dessa crise, a companhia ensaiou, sem sucesso, uma integração à colombiana Avianca Holdings, de Germán Efromovich, irmão de José Efromovich e responsável pelos aportes que permitiam à empresa brasileira operar com sucessivos prejuízos. Agora, em recuperação judicial, o destino pode ser o mesmo que tiveram Varig, Vasp e Transbrasil. “É triste ver a Avianca, que apanhou tanto durante a crise, sofrer esse baque bem na hora que a situação está melhorando”, diz Francisco Lyra, sócio da consultoria C-Fly. “Eles estão fragilizados e exauridos justamente no momento em que o mercado está alcançando um porto seguro.”

Um plano aprovado pela gestora Elliott Management — um dos mais conhecidos fundos-abutres americanos e maior credor da companhia, com cerca de US$ 2 bilhões da dívida de US$ 2,8 — vai fatiar a Avianca em sete partes. Chamadas de unidades produtivas independentes (UPI), elas são espécies de miniempresas. Uma delas inclui o plano de fidelidade Amigo. As outras dividem os slots. Essas UPI serão leiloadas em três blocos separados.

A Elliott pretende levantar ao menos US$ 230 milhões com as vendas. Devem participar do leilão as três aéreas do mercado nacional. Latam e Azul já se comprometeram a pagar o valor mínimo por bloco, de US$ 70 milhões. A Latam também afirma que transferirá US$ 8 milhões à Avianca para garantir que a empresa continue operando — a companhia em crise já recebeu R$ 109 milhões em empréstimos das suas rivais, como forma de mantê-la no mercado. O valor desses aportes deve ser descontado das partes arrematadas.

José Ricardo Botelho: com o fatiamento, o presidente da ANAC se livra de um problemão (Crédito:Divulgação)

Disputa por Congonhas Com isso, a Avianca pode até sobreviver, mas muito menor do que já foi um dia. A proposta de recuperação judicial diz que a empresa manteria 16 autorizações de voo nos aeroportos de Guarulhos (SP), Salvador, Recife e Fortaleza. A grande disputa deve acontecer pelos slots de Congonhas, em São Paulo. A mais interessada é a Azul, que já negociava em março o arrendamento de 30 aviões Airbus A320 e 70 pares de slots da Avianca por US$ 105 milhões, em março. Caso consiga as autorizações de Congonhas, a Azul avançaria sua participação no aeroporto paulistano de 5% para 12,5%. Latam e Gol já dominam com folga o local, com 44,7% e 42,7%, respectivamente, mas também devem mostrar apetite por esses ativos. Por tudo isso, a UPI B deve ser a mais concorrida, ao incluir nove autorizações de decolagens e pousos em Congonhas; 13 em Guarulhos (SP); e cinco no Santos Dumont, Rio de Janeiro.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foi determinante no processo, já que autorizou rapidamente o fatiamento da Avianca, que corria o risco de perder suas aeronaves. Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça a protegeu apenas até a assembleia dos credores com as empresas arrendadoras, com as quais a empresa possui dívidas em torno de R$ 500 milhões. Elas pretendiam retomar 19 aviões. A empresa, porém, se comprometeu a devolver seis aeronaves nos próximos dias. Outra complicação é que os aeroportos de Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis ameaçam barrar a Avianca, caso ele não volte a pagar as taxas de embarque. A companhia tem R$ 100 milhões em dívidas com esses aeroportos.

O fatiamento também tira um problema das costas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que arriscava deixar passageiros na mão e rotas paralisadas se a solução fosse mais vagarosa. O presidente do órgão regulador, José Ricardo Botelho, tem conversado com as administradoras dos principais aeroportos brasileiros para que não proíbam pousos e decolagens da Avianca em razão do não pagamento de taxas. A disputa está só no começo. O que chegou ao fim foi o sonho de José Efromovich.