Embora o mundo esteja ‘imerso’ na 7ª onda do coronavírus, as vacinas têm cumprido o seu propósito: a eficácia contra doenças graves e morte permitiram relaxar as medidas de contenção e assumir uma vida mais normal. No entanto, as pessoas continuam a morrer e a Covid-19 está entre nós: as infecções têm registado um aumento generalizado e o número de internados se mantém semelhante ao de quatro meses atrás, apontou o jornal espanhol ‘El Mundo’.

A cada nova onda se torna difícil encontrar alguém que, independentemente da vacinação, não tenha sido infectado. Numa conferência recente em Espanha, Agustín Portela, chefe da Divisão de Produtos Biológicos, Terapias Avançadas e Biotecnologia da Agência Espanhola de Medicamentos (AEMPS), apontou três cenários para a evolução da pandemia.

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Um, muito provável, é que o vírus continue a acumular mutações. “O vírus nos surpreende pela sua plasticidade para acumular mutações e se manter viável. Mas enquanto houver anticorpos neutralizantes nos vacinados que reconheçam uma nova variante, pode haver ampla circulação do vírus, embora não um aumento de casos graves”, explicou o especialista.

Outro cenário, mais especulativo e complicado, é que a proteína spike pode desenvolver a capacidade de se ligar a um novo recetor diferente do ACE2. “É muito improvável mas se acontecer pode haver uma mudança no tropismo e o vírus pode infectar outras células”, apontou Portela, que destacou que poderia haver outra proteção contra a gravidade da doença “graças a anticorpos que reconhecem outros locais da proteína spike”. É, no entanto, muito improvável embora tenha indicado que sempre que surge uma nova variante os cientistas procuram logo saber se esta se liga ao ACE2, ou seja, não descartam que isso possa acontecer.

O terceiro cenário, “uma coisa tremenda que esperamos que não aconteça”, seria se outra das proteínas da membrana (a M ou a E) pudesse ser aquela que se ligasse ao recetor da célula. “Isso é muito, muito improvável, são proteínas muito pequenas, mas se isso acontecesse também poderíamos ter uma mudança no tropismo e na doença. Nesse caso, haveria alguma proteção contra a gravidade graças aos anticorpos que reconhecem outras proteínas do vírus naquelas pessoas que foram infectadas. E aqueles que só foram vacinados podem ter um problema porque nunca teriam visto essa proteína”, acrescentou Portela.

Perante os três cenários apresentados, o especialista apontou que a vigilância epidemiológica deve concentrar-se nos recém-nascidos. “Para eles, os primeiros anos de vida são uma pandemia atrás da outra: gripe, vírus sincicial respiratório, sarampo… para eles e para os pais.”

“As crianças têm proteção nos primeiros meses devido aos anticorpos transmitidos pela mãe, mas assim que isso acabar, a criança será igualmente infectável tanto pela Ômicron como pela variante original”, finalizou o especialista.