Comecei ali mesmo no hospital, em 2017, enquanto acompanhava, angustiado, a evolução do estado de saúde da minha filha recém-nascida a rascunhar tudo o que poderia ser feito para definir as diretrizes estratégicas do grupo para os próximos anos, pensando em como colocar a inovação como a mola propulsora do meu plano estratégico para promover uma disrupção no negócio de Educação no Brasil”, afirmou Alexandre Velilla Garcia, CEO do Grupo Cel.Lep.

Felizmente a narrativa do Alexandre teve um duplo happy end, pois tanto a filha dele é uma vitoriosa e está forte e saudável, como ele também conseguiu reposicionar o Cel.Lep e colocar a empresa em invejável patamar de sucesso.

Mas a atitude dele é mais uma exceção do que a regra. Nas minhas conversas pessoais, percebo que parte significativa dos inúmeros líderes empresariais com os quais interajo entendem que apenas precisam de alguns ajustes nos seus atuais modelos de negócio. Muitos revelam que só pretendem mudar seus modelos de negócios nos próximos dois a cinco anos. Será que de fato essas empresas dispõem de todo esse tempo para fazer as transformações que são necessárias?

Tenho insistido no tema nas últimas semanas devido ao agravamento da pandemia e às inúmeras incertezas que rondam nosso macro cenário político e econômico. Na realidade já tratei desse assunto nesta coluna antes da primeira manifestação da Covid no País quando questionei: “Sua empresa existirá em 2030?”.

A minha angústia e, por que não dizer, dose de surpresa, quando apenas alguns líderes confessam estar preocupados e suspeitam que terão que mudar rápido, pois suas empresas já passaram pela porta da UTI e não desejam voltar.

Afinal, presenciamos, nos últimos meses, uma aceleração das soluções disruptivas que tem destruído negócios tradicionais da noite para o dia. Outros tantos parecem condenados a desaparecer, mas já não serão objeto de maiores surpresas, pois o seu prazo de validade já se esgotou. Empresas e marcas que pareciam sólidas, simplesmente estão perdendo a relevância e vendo seu valor de mercado virar pó.

Sabemos que o horizonte empresarial se encontra carregado de nuvens tempestuosas, com o arsenal de novas tecnologias que aceleram o futuro e com isso o processo de obsolescência de produtos e serviços, as mudanças nos hábitos de compra e uso dos consumidores, as constantes alterações na legislação e nos marcos regulatórios, o surgimento de concorrentes mais ágeis e flexíveis, dentre vários outros fatores.

Mas, sem sombra de dúvida, a causa maior dos problemas enfrentados pelas empresas reside no estilo de liderança exercido pela maioria dos seus dirigentes. Líderes pouco questionadores, nostálgicos, acostumados ao sucesso durante uma realidade que já não existe mais, focados no curto prazo e na sua própria sobrevivência profissional, muitas vezes preferem não enfrentar o que precisam para reposicionar a empresa rumo ao sucesso do longo prazo.

Daí a importância do exemplo dado por Alexandre Velilla na semana em que foi promovido de CFO para CEO do Grupo Cel.Lep. Mesmo vivendo uma delicada situação familiar, não perdeu tempo e encontrou forças para iniciar o processo de reinvenção do seu modelo de negócio construído a mais de 50 anos. Foi um profundo turnaround, que contou com uma equipe de gestão muito comprometida com a nova visão, evoluindo de um modelo 100% presencial para uma multiplataforma onde o aluno passou a ser o centro de tudo. Complementarmente, sistemas de ensino bilíngue passaram a ser oferecidos, cursos para formar programadores foram disponibilizados, tudo amparado em um intenso e disciplinado processo de transformação digital, ancorado em seus pilares culturais de inovação e excelência. Como consequência, em três anos o negócio obteve o triplo de alunos, com isso ampliou suas unidades, e passou a operar em 10 estados do Brasil.

Mas longe de se acomodar com o sucesso obtido, Alexandre continua a pensar no futuro, já com várias ideias inovadoras no seu propósito de inspirar pessoas a transformar suas vidas por meio da educação.

Que este exemplo nos motive e nos dê coragem para decidir sobre as mudanças que precisam ser enfrentadas para garantir que as nossas empresas garantam um lugar ao sol na estrada rumo ao futuro. Um líder tem que se transformar para ser o agente da transformação que a sua empresa necessita!

*   César Souza é cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige” (Best Business 2019) é também coautor do recém-lançado “Descubra o Craque que Há em Você” (Buzz,2020)