As empresas tradicionais de tecnologia, em geral, escolhem para comandar suas subsidiárias ao redor do mundo executivos com experiência. Há 20 anos, isso significava ter uma longa folha corrida na companhia e, ao mesmo tempo, vários cabelos brancos.

Mas essa receita está começando a mudar. A primeira a fazer isso no Brasil foi a IBM. Rodrigo Kede, quando assumiu a operação local da big blue, como ela é conhecida, tinha apenas 40 anos. Ele foi o seu presidente mais jovem. Hoje, depois de uma breve passagem pela Totvs, ele comanda a IBM na América Latina.

Agora, chegou a vez da Oracle. Aos 35 anos, o executivo Rodrigo Galvão tem a missão de tocar a subsidiária brasileira da Oracle, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, com valor de mercado de US$ 204 bilhões.

Galvão e Kede têm várias similaridades, além de serem jovens. Ambos começaram como estagiários. Galvão, por exemplo, tinha 19 anos quando entrou na Oracle. Os dois também foram galgando cargos na estrutura corporativa e atuando em diversas áreas antes de assumirem o cargo máximo da filial local. “Eu me preparei para chegar até aqui”, disse ele, em uma conversa com jornalistas nesta quarta-feira 5.

A busca por executivos mais jovens pode ser explicada por uma necessidade de estar conectada aos novos tempos em que os modelos de negócios de empresas como IBM, Oracle e Microsoft, veteranas do setor, passam por uma grande transformação. Ao mesmo, companhias como Amazon, Google e Facebook passaram a ser concorrentes.

Em setembro do ano passado, durante o Oracle Open World, em São Francisco, nos Estados Unidos, o fundador da companhia, Larry Ellison mirou sua metralhadora giratória para a Amazon. “A liderança da Amazon acabou”, disse ele. Depois, em uma versão mais contida, foi diplomático. “Tenho muito respeito pelo que a Amazon conquistou em infraestrutura. Mas eles podem se preparar para uma séria concorrência.”

A frase de Ellison ilustra o desafio que Galvão tem pela frente. Cabe a ele preparar o terreno, no mercado brasileiro, para essa batalha. A companhia, que já conta com um data center no País, inaugurará seu segundo centro de dados no segundo semestre deste ano.

Segundo Galvão, todos os produtos da Oracle já foram migrados para o modelo de computação em nuvem. Mais: a companhia tem apresentando receitas crescentes nessa área. No ano fiscal de 2017, que terminou em 31 de maio deste ano, elas representaram US$ 4,5 bilhões de uma receita total de US$ 37,7 bilhões.

Esse é um indicativo de que a Oracle tem um longo caminho a percorrer. Mas, na visão de Galvão, é um sinal também de que há muito espaço para crescer. De acordo com o presidente da Oracle no Brasil, apenas 10% das empresas migraram para computação em nuvem. Entre esses, a Amazon lidera. Mas outras 90% ainda não adotaram o modelo. “Muitos deles usam nossos produtos”, afirmou o executivo. “Temos uma oportunidade enorme.”

Ao que tudo indica, não deve faltar energia para Galvão ir atrás desses clientes. Ele tem enfrentando jornadas longas desde que assumiu o subsidiária local. Mas mantém uma rotina que tenta equilibrar sua vida pessoal e a profissional. Duas vezes por semana, vai trabalhar de bicicleta. Às vezes, volta correndo para casa. Seu hobby é tocar violão e cantar, de preferência música sertaneja. Em duas ocasiões, em eventos com funcionários da Oracle, no Brasil, ele soltou a sua voz.