A 15 dias do fim de seu mandato, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump intensificou a ofensiva contra a tecnologia chinesa, assinando um decreto contra oito aplicativos em nome da “segurança nacional”.

O decreto assinado na terça-feira proíbe, dentro de 45 dias, qualquer transação com esses aplicativos, “de qualquer pessoa que dependa da jurisdição dos Estados Unidos”.

Esta é uma nova ofensiva na rivalidade tecnológica com a China, cujos aplicativos inovadores agora têm ambições mundiais.

Pequim vigia de perto a internet e bloqueia os sites considerados politicamente sensíveis. Este sistema, apelidado “grande firewall” (alusão à grande muralha da China) contribuiu para o surgimento de campeões digitais chineses, na ausência de concorrentes americanos – como Google, Facebook ou Twitter – bloqueados em seu território.

Mesmo que alguns dos oito aplicativos sejam populares no exterior, outros são usados principalmente pelos chineses.

– WeChat Pay, simples como um scanner –

É um serviço de pagamento imprescindível na China, que substitui cada vez mais o uso de dinheiro. Esta “bolsa” eletrônica faz parte do WeChat (grupo Tencent), o e-mail mais utilizado pelos chineses.

Até nos lugares mais remotos, inclusive nos mercados para pagar pequenas quantias, os chineses usam o WeChat Pay.

As transações são feitas escaneando um código QR com o celular, e também é possível transferir dinheiro para seus contatos.

O WeChat possui 1,2 bilhão de usuários ativos. Apesar de majoritariamente chinês, o aplicativo também está disponível em quase 20 idiomas.

– QQ, mais que o MSN chinês –

Assim como o WeChat, o QQ pertence ao gigante Tencent. Lançado em 1999, este aplicativo foi a primeira plataforma de e-mail de sucesso no país.

O programa se baseava em grande parte no MSN Messenger, da americana Microsoft. O QQ é, de certa forma, o ancestral do WeChat, que foi desenvolvido depois especificamente para smartphones.

O QQ, que também possui um serviço de e-mail, se adaptou desde então à era digital (videoconferências, plataforma de pagamentos QQ Wallet).

O aplicativo continua popular na China no âmbito profissional, com mais 768 milhões de usuários ativos – a maioria chineses.

– Alipay, mais forte que PayPal –

Alipay, propriedade do gigante do comércio online Alibaba, fundada pelo bilionário Jack Ma, é a maior plataforma de pagamento do mundo.

Assim como o WeChat Pay, seu principal concorrente na China, o Alipay permite pagar suas compras por um aplicativo de celular com códigos QR.

Presente em mais de 80 milhões de lojas, este sistema é usado todo mês por mais de 700 milhões de pessoas, de acordo com os números da empresa.

O Alipay declara um volume anual de transações que supera os 118 trilhões de yuanes (cerca de 17,7 trilhões de dólares, 14,4 trilhões de euros), cinco vezes mais que a gigante americana PayPal.

– CamScanner, especialista da digitalização –

Digitalizar documentos com o celular, converter os elementos de uma foto em texto ou “limpar” os documentos escaneados para convertê-los em arquivos de alta resolução: o CamScanner oferece uma série de ferramentas de exploração e soluções para o armazenamento e troca de arquivos.

O CamScanner é desenvolvido pela chinesa INTSIG, especializada em tecnologias de reconhecimento (facial, vocal e documentos de identidade), com mais de 300 milhões de usuários em todo o mundo.

Em 2019, o desenvolvedor russo de antivírus Kaspersky encontrou um malware no CamScanner. A Índia proibiu o aplicativo no ano passado em nome da segurança, junto com outros 200 aplicativos chineses.

– VMate, clone do TikTok –

O aplicativo permite, assim como o TikTok – que conquistou os adolescentes de todo o mundo antes de estar também na mira dos Estados Unidos -, criar e compartilhar vídeos curtos de danças ou músicas com playback.

Lançado em 2017 com o apoio do Alibaba, destinado ao enorme mercado indiano, o VMate é muito popular na Índia, mas agora também está na lista dos aplicativos chineses proibidos no país.

– SHAREit, compartilhar sem limites –

Filmes, fotos, música e até documentos de texto. O SHAREit é um aplicativo de conteúdos compartilhados que aceita todo tipo e tamanho de arquivos.

É possível compartilhar rapidamente arquivos pesados em qualquer tipo de dispositivo (smartphones, computadores ou tablets) sem precisar de conexão com internet e conservando a qualidade original.

A principal vantagem do aplicativo é a confidencialidade das trocas, que a princípio não podem ser interceptadas por um terceiro.

O SHAREit, disponível em 45 idiomas, conta com 1,8 bilhão de usuários distribuídos em 200 países e regiões.

– WPS Office, alternativa da Microsoft –

É a alternativa chinesa ao popular programa ‘Office’ da Microsoft (Word, Excel). Fundada em 1989, a empresa de cerca de 2.000 funcionários possui mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo e filiais nos Estados Unidos e Singapura.