Vendido! É o que mais se ouve nos leilões brasileiros e internacionais quando o assunto são os artistas brasileiros contemporâneos, que se tornaram os novos queridinhos dos colecionadores e investidores em todo o mundo. A valorização é impressionante. Em 2003, o quadro O mágico, da artista carioca Beatriz Milhazes, valia US$ 15 mil. Em 2008, essa mesma tela foi vendida por mais de US$ 1 milhão em um leilão na Sotheby’s de Nova York, o preço mais elevado por um quadro de artista brasileiro vivo. 

 

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“Os preços permanecem nesse patamar”, diz James Lisboa, um dos mais respeitados leiloeiros do Brasil. Adriana Varejão, outra artista carioca do primeiro time, segue o mesmo caminho. 

 

A valorização de seus trabalhos mais expressivos nos últimos oito anos chega a 5.000%, superando os 4.200% das ações da CSN, papel do Índice Bovespa que mais se valorizou nesse período.

 

O que fez esses nomes se transformarem na nova sensação dos investimentos? Uma das causas é a estabilidade da economia, que beneficia também os negócios ligados à arte. “O País está na moda e chama a atenção dos colecionadores em todo o mundo”, diz a galerista Marília Razuk, que tem dois espaços de exposição em São Paulo. 

 

Outra causa é a qualidade do trabalho dos brasileiros. “Os artistas estão em sintonia com a realidade e conseguem exprimir o que se passa no mundo de maneira criativa, real e fiel à suas origens, ingredientes que sempre agradam aos compradores”, diz Marília. 

 

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Quem conhece o mercado também observa um aumento do número de interessados. “Há muito mais participantes nos últimos anos”, diz Alfredo Setubal, banqueiro, colecionador e responsável pelas aquisições do Itaú Unibanco. Meticuloso, Setubal começou a colecionar a sério há 15 anos. 

 

Hoje, ele possui uma coleção de cerca de mil obras, que vão da década de 40 aos contemporâneos, e notou uma mudança no perfil dos compradores. “Há gente nova no mercado. Quem ganhou dinheiro com as aberturas de capital e o crescimento da economia já satisfez seus desejos consumistas mais imediatos e agora também está investindo em arte.”

 

Como começar? A explosão dos artistas brasileiros elevou os preços médios das obras, o que tornou mais difícil a vida de quem está pensando em iniciar sua coleção. A primeira recomendação é ter consciência de que o investimento em arte é totalmente diferente de qualquer aplicação financeira. 

 

“Não é possível tentar uma estratégia de curto prazo”, diz o marchand paulista Ricardo Camargo. “As obras de arte precisam ser desvinculadas do mercado financeiro e não podem ser adquiridas para serem vendidas imediatamente.” 

 

A projeção e os preços conseguidos recentemente por artistas brasileiros são exceções. Um artista só vê os preços de suas obras subirem quando atinge o auge, com um trabalho maduro e reconhecido. 

 

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Ivald Granato: o mercado é feito pelo público, mas os preços têm de estar alinhados com a trajetória do artista

 

São, pelo menos, 15 a 20 anos de pincéis na mão. “Investir em artistas com menos de dez anos de carreira é como apostar na loteria”, diz Lisboa. É preciso fugir da especulação e saber que preço alto não é sinônimo de qualidade. Além disso, há um fator subjetivo que tem de entrar na conta. “Mesmo que a obra não se valorize, ela tem de agradar ao comprador”, diz Lisboa. 

 

Se você gostar de uma peça, não compre por impulso. Faça uma lição de casa básica. Informe-se, principalmente, sobre o preço médio alcançado pelo artista nas suas últimas vendas, pesquise sobre a relevância do artista e sobre a importância daquela obra ou fase na carreira dele. 

 

“Estudei muito antes de começar a colecionar a sério”, diz Setubal. Comprar a obra diretamente do artista pode sair mais em conta, mas envolve riscos. O investidor tem de decidir sozinho, sem o apoio de um especialista. 

 

“O risco é maior”, diz Marília, que representa alguns dos nomes da geração 2000, como Marina Weffort, Débora Bolsoni, Bruno Dunley e Ana Prata, entre outros. Uma recomendação importante é garantir-se quanto à procedência da sua aquisição: a falsificação não é rara e pode pegar os menos atentos. Peça o histórico daquela obra e de seu colecionador. 

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O mercado tem vários nomes, com várias faixas de preço e em vários momentos. Enquanto a nova geração luta por espaço, artistas como Ivaldo Granato e Tunga estão em alta. Eles começaram a expor no Exterior no início dos anos 90 e essa visibilidade se transferiu para outros brasileiros de primeiro escalão. 

 

Quando obras de Cildo Meireles foram adquiridas pela Tate Gallery, em Londres, há alguns anos, isso estimulou todo o mercado. “A aquisição de uma obra por um museu importante é como um grau de investimento para o artista”, diz Setubal. Mesmo assim, avalia, é preciso cuidado ao comprar.

 

O pernambucano Tunga assina embaixo. Sua agenda concorrida inclui exposições em Paris e em Nova York. Ele vê o momento de mercado com restrições. “Há modismos, mas eles não vão necessariamente se transformar em cultura de valor”, disse ele à DINHEIRO. 

 

O carioca Ivald Granato concorda. “Os preços têm de ser condizentes com a trajetória do artista.” Ele vê o momento atual com uma pincelada de desconfiança. “As cotações atuais estão altas e são irreais, e as galerias estão cheias de obras e querendo se livrar delas”, diz ele. “O investidor tem de tomar cuidado.”