Na noite da vitória de Vladimir Putin nas eleições presidenciais da Rússia, na semana passada, uma multidão se reuniu nos arredores da Praça Vermelha, em Moscou. Não pela votação, mas sim o quarto aniversário da anexação da Crimeia, península da Ucrânia, militarmente ocupada pelos russos em 2014. A coincidência de datas refletiu bem como a história recente da Rússia se mistura com a liderança de Putin e foi ali mesmo que ele anunciou sua vitória com 76% dos votos.

O placar elástico lançou dúvida sobre a eleição, com denúncias de que apoiadores de Putin adulteraram votos a favor dele. Mas o resultado ajudou a sedimentar a visão interna de que o líder trabalha pelos interesses da Rússia, doa a quem doer. “A popularidade dele se mantém alta por essa defesa do Estado russo, após o fim da Guerra Fria”, diz Cristina Pecequilo, professora de política externa na Unifesp.

O ditador soviético Josef Stalin governou por 31 anos. Putin, aos 65 anos, assume o quarto mandato como presidente, somando 19 anos no poder, incluindo um mandato como primeiro-ministro. Pouco deve mudar, inclusive as ações polêmicas (leia quadro ao lado). A reeleição acontece em meio a acusações de usar redes sociais para influenciar a eleição de Donald Trump, nos EUA, e após o governo britânico ter acusado a Rússia de atacar ex-espiões russos no Reino Unido. Putin nega tudo, mas os especialistas não o isentam de culpa. “Se alguém cometeu os crimes por ele ou pela Rússia, a responsabilidade é sua como chefe de Estado”, afirma Eugene Rumer, do think tank internacional Carnegie, nos Estados Unidos.

Quanto às relações comerciais entre Brasil e Rússia, a reeleição de Putin não deve ter influência negativa. No comércio exterior, os dois países negociaram US$ 6 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses. O Governo planeja mudar isso e quer que a troca seja de US$ 10 bilhões. “Mesmo após a Operação Carne Fraca, a Rússia é a maior compradora de carne suína brasileira”, afirma Gilberto Ramos, presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio. “Somos parceiros estratégicos”, diz Ramos.