O paraguaio Luis Kemper ocupa uma mesa na diretoria internacional da Puma há 15 anos e costuma dizer que nesse tempo todo levou apenas dois sustos. O primeiro, há dois anos, quando ficou cara a cara com a tenista americana Serena Williams, garota- propaganda da cinqüentenária fabricante alemã de artigos esportivos. ?Perdi o fôlego. Ela é incrivelmente grande?, relembra, de olhos arregalados, como se a campeã estivesse
na sua frente. O segundo baque é mais recente e tem a ver
com a inesperada resposta do mercado à sua tentativa de trazer a marca de volta ao Brasil. Em agosto do ano passado, Kemper despejou em algumas lojas 5 mil pares de tênis, de R$ 150 cada, ?só para testar o apetite do consumidor?. Não sobrou nenhum para contar
a história e ainda foi preciso cancelar pedidos. ?Perdemos vendas de 10 mil pares por sermos medrosos. Mas foi o sinal verde para voltarmos com tudo?, afirma.

A Puma já esteve no Brasil duas vezes, operando com fabricantes locais licenciados. Primeiro com a Vulcabrás, entre 1989 e 1995, e depois com a Tronic, de 1998 a 2002. Mas nunca deslanchou. ?Essas empresas não tinham condições de trabalhar a nossa marca de maneira adequada?, explica Kemper. ?Vendíamos mais no Paraguai do que no Brasil. A matriz achou melhor comandar a operação por meio de uma subsidiária.? A Puma do Brasil, na verdade, ainda nem existe oficialmente. Aguarda que a burocracia estadual libere os últimos documentos. Enquanto isso, Kemper vai colecionando novos sustos. Sua previsão de vendas era de R$ 9,3 milhões para 2003. Mas, baseado nas encomendas que não param de chegar à tela de seu inseparável laptop, ele já fala em R$ 14 milhões. As fábricas de tênis (terceirizadas), que seriam três, agora serão quatro. E a linha de vestuário, que deveria vir toda do Paraguai, ganhará fabricação local em junho. Sem falar nas lojas próprias. O plano era abrir a primeira em 2004. Mas a insistência de 12 empresários sedentos pelo negócio fizeram Kemper mudar de idéia: ?Vou ter que inaugurar uma em São Paulo e outra no Rio ainda este ano?.

Por que essa febre? Bom, na verdade não se trata de um fenômeno local. A Puma está surpreendendo o mundo inteiro. Deixou para trás a imagem de marca esportiva de segunda linha e se tornou um poderoso ícone fashion. E em apenas 10 anos. Fundada em 1948 por Rudolph Dassler (irmão de Adi Dassler, criador da Adidas), a Puma quase quebrou nos anos 90. Sem caixa para gastar em marketing e design, foi literalmente pisoteada pela tecnologia ?air? de Nike, Adidas e Reebok. Mas eis que um anjo de nome Arnon Milchan caiu do céu. Dono da New Regency, uma das maiores produtoras de Hollywood, ele adquiriu o controle acionário da Puma e, percebendo a iminente onda retrô que  tomaria de assalto o mundo da moda, ordenou: ?Vamos resgatar os modelos de tênis desenhados por Dassler na década de 50?. Depois transferiu o departamento de criação para Los Angeles e começou a presentear seus amigos artistas de cinema com um parzinho aqui, outro ali. Resultado: o mundo inteiro queria calçar Puma, mas só poucos sortudos conseguiam. A marca havia se tornado um objeto de desejo.

Mas faltava ainda tapar os rombos do balanço. Milchan escalou para a tarefa o alemão Jochen Zeitz, garoto-prodígio da Procter & Gamble. Aos 29 anos, Zeitz se tornou o CEO mais jovem da história empresarial de seu país e, de tesourão em punho, foi à luta: demitiu, varreu para o lixo itens com baixo valor agregado, mandou fechar todas as fábricas próprias ? então instaladas no Leste Europeu ? e transferiu 90% da produção para a China e Vietnã em busca de mão-de-obra barata. Já em 1994, o primeiro ano da administração Zeitz, a Puma voltava a dar lucro, palavra desconhecida em Herzogenaurach (cidade bávara onde fica a sede da companhia) desde 1986. O novo presidente também passou a tratar o esporte como um valioso instrumento de marketing e não mais como a principal fonte de receita da empresa. Fechou contratos de patrocínio com feras do quilate do pugilista americano Oscar De La Roya e do velocista britânico Lindford Christie. E gerou burburinho ao vestir a seleção de Camarões com a primeira camisa sem mangas da história do futebol. A Fifa depois proibiu, mas a polêmica foi devidamente capitalizada pelos alemães.

Em 2002, a história da companhia alemã ganhou dois novos
sustos ? bons sustos, diga-se. O primeiro dado nos próprios acionistas e executivos: as vendas atingiram US$ 1,5 bilhão
(42% sobre o ano anterior), o que deveria acontecer em 2005
pelas previsões de Zeitz. O segundo, nos torcedores italianos. Por valores não divulgados, a Puma desbancou a tradicionalíssima Kappa (que no país de Dante está para o futebol como a Ferrari está para os carros) e se tornou fornecedor oficial de material esportivo da famosa squadra azzurra. ?De uma gatinho adormecido, a Puma se tornou um leão feroz?, disse Zeitz certa vez, em referência ao logotipo da marca.