Os desfiles do Sábado das Campeãs começaram com arquibancadas, camarotes e frisas lotadas e um público empolgado. O clima nas arquibancadas esquentou com o anúncio dos nomes das escolas que se apresentariam na noite. A resposta em aplausos foi imediata.
 
A descontração foi o forte dos componentes, que, enfim, não precisavam se preocupar com os jurados. Houve até quem não estivesse com a fantasia completa, mas o que importava era a alegria de estar entre as campeãs do carnaval do Rio de Janeiro.

Mocidade

A primeira a entrar na avenida foi a Mocidade Independente de Padre Miguel, que ficou em sexto lugar este ano, com o enredo Eu Sou o Tempo, Tempo É Viida. Como um agrado a quem estava no Setor 1, o mais popular da avenida, a comissão de frente fez a coreografia completa e foi ovacionada pela arquibancada.

Saulo Finelon, que junto com Jorge Teixeira é coreógrafo da comissão de frente da Mocidade, disse que a apresentação para esse público é especial. “É o nosso termômetro e eles precisam disso. Esperam o ano inteiro por isso”, afirmou.

Desfile da Mocidade Indepentente de Padre Miguel, sexto lugar no carnaval do Rio de Janeiro.

Desfile da Mocidade Indepentente de Padre Miguel, sexto lugar no carnaval do Rio de Janeiro. – Tomaz Silva/Agência Brasil

Dessa vez, a cantora Elza Soares não acompanhou a escola na avenida. No desfile oficial ela estava no abre-alas. Elza foi representada pela neta Virna Soares, de 42 anos.
 
A cantora está em Quito, onde foi participar de uma palestra da Organização das Nações Unidas em defesa das mulheres e fazer shows. “Ela ficou bem emocionada em substituir a minha avó, o que é muito difícil”, disse outra neta da cantora, Vanessa Soares, que seguia ao lado do abre-alas na pista.

Salgueiro

Uma homenagem à bateria da escola foi a recepção que a vermelho e branco da Tijuca recebeu do público do Setor 1. Quando os ritmistas faziam paradinhas, a plateia imediatamente gritava: “Furiosa” – como a bateria do Salgueiro é chamada. Saudações também para a rainha Viviane Araújo, que agradecia sambando e, assim, antecipando o que faria na avenida dentro do enredo Xangô! – o padroeiro da escola.

 Desfile da Salgueiro, quinto lugar no carnaval do Rio de Janeiro.

Desfile da Salgueiro, quinto lugar no carnaval do Rio de Janeiro – Tomaz Silva/Agência Brasil

Durante o desfile, embora com a fantasia dos ritmistas, José de Oliveira, o Zeca da Cuíca, aos 84 anos, não estava na bateria. Com passos lentos, quis acompanhar as alas pela lateral da escola, levado por dois amigos e carregando o instrumento do qual é mestre. “O Salgueiro está uma beleza. É matéria-prima, meu Deus”, disse.

Portela

Clara Nunes voltou à avenida com os batuques para Iansã e Ogum, os orixás da cantora no enredo da azul e branco de Madureira e Oswaldo Cruz. Foi com essa força que a Portela sacudiu a Marquês de Sapucaí.
 
A cantora Mariene Castro integrou a comissão de frente, interpretando a homenageada. “Venho trazendo o canto da sabiá [como Clara Nunes era chamada] para a avenida, com a força de Iansã e com a força das guerreiras de Iansã. Eu estou muito feliz e agradecida”, afirmou.

Desfile da Portela, quarto lugar no carnaval  2019 no Rio de Janeiro

Desfile da Portela, quarto lugar no carnaval do Rio de Janeiro – Tomaz Silva/Agência Brasil

O dançarino Carlinhos de Jesus explicou em que se baseou para criar a coreografia da comissão de frente da Portela. “Como Iansã significa a luz do entardecer, quis trazer as guerreiras de Oyá no ritual do entardecer. Isso aqui é um ritual. É um terreiro de candomblé que está aqui”, disse.

A porta-bandeira Lucinha Nobre, que com Marlon Lamar conquistou nota máxima dos jurados, contou que a preparação para representar Clara Nunes começou em outubro. “Foi muito trabalho, mas especial porque representar a Clara é uma emoção muito grande. Estou muito feliz de ter realizado este trabalho, com apoio dessas meninas lindas da comissão de frente porque ensaiei com elas”, destacou.

Na preparação, Lucinha assistiu a vídeos da cantora para aprender os trejeitos dela e até a cor do cabelo mudou para ficar mais parecida com Clara. No alto do abre-alas, duas figuras de destaque da Portela: Monarco e Tia Surica, que arrancaram aplausos do público e muitas fotos sempre que eram reconhecidos na alegoria.

 
No meio do desfile, no terceiro setor do enredo que representava a brasilidade mineira uma componente da ala Folia de Reis carregava um cartaz: Mariana Resiste, em alusão ao rompimento da barragem em novembro de 2015.

Vila Isabel

O desfile luxuoso da azul e branco de Vila Isabel voltou para a avenida e encantou o público mais uma vez, com a combinação da cidade serrana de Petrópolis, a realeza e o samba da terra de Noel. O enredo Em Nome do Pai, do Filho e dos Santos – A Vila Canta a Cidade de Pedro trazia logo na comissão de frente uma visita ao Palácio Imperial.  Como disse o coreógrafo Patrick Carvalho, os componentes, sem preocupação com os jurados, se apresentaram para a plateia.
 
O presidente da escola, Fernando Fernandes, disse que a apresentação deste ano foi resultado de um trabalho de reorganização da escola. “Fizemos as mudanças que deveriam ser feitas e, no ano que vem, a Vila vem mais forte ainda”, afirmou.

Desfile Unidos de Vila Isabel, terceiro lugar no carnaval do Rio de Janeiro.

Desfile Unidos de Vila Isabel, que ficou em terceiro lugar no carnaval do Rio – Tomaz Silva/Agência Brasil

Apesar de destacar a ida de profissionais para a escola que garantiram os pontos que a levaram ao terceiro lugar no carnaval de 2019, o presidente não confirmou a continuidade da equipe. “Vamos aguardar. Vai ter mudanças”, adiantou.
 
À frente da bateria, mestre Macaco Branco, que pela primeira vez comandou os ritmistas, estava feliz com o desfile da escola e com reconhecimento que ganhou na sua estreia. Ele foi premiado com um Estandarte de Ouro, dos jornais O Globo e Extra. “Não tem preço que pague. É muito satisfatório representar a minha comunidade. Graças a Deus deu tudo certo”, afirmou, ao lado do filho Enzo, de 8 anos, que imitava os gestos do pai.

Viradouro

Com a magia do carnavalesco Paulo Barros para o enredo ViraViradouro, a escola de Niterói fez um desfile animado e mostrando que quer permanecer no Grupo Especial. O samba, que fala, em um dos versos, “o brilho no olhar voltou”, mostrava bem a alegria dos componentes. “A escola está com garra. O carnaval foi maravilhoso” disse Olivia Cordeiro de Souza, de 63 anos, integrante da Velha Guarda, que está na Viradouro há 40 anos.

Desfile das Campeãs do carnaval 2019 do Rio de Janeiro, Unidos da Viradouro

Unidos da Viradouro, que ficou em segundo lugar – Tomaz Silva/Agência Brasil

Barros, que no desfile oficial acompanhou a escola da pista, dessa vez veio no alto da última alegoria. De vez em quando, o carnavalesco abria uma faixa com a palavra gratidão.

Mangueira

Mesmo perto de amanhecer e depois de já ter assistido a cinco desfiles, o público não se conteve quando o locutor oficial do Sambódromo anunciou o nome da Mangueira, a campeã de 2019, que apresentou o enredo História pra Ninar Gente Grande.
 
No esquenta para o início do desfile, o intérprete Marquinho Art’Samba cantou sambas-enredo de outros campeonatos da verde e rosa, como A Menina dos Olhos de Oyá, em homenagem à cantora baiana Maria Bethânia (2016), e o samba exaltação Sei lá, Mangueira, composto por Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho. Nos primeiros versos – Mangueira teu cenário é uma beleza – o público se empolgou.

 Desfile da estação primeira de Mangueira,  campeã do carnaval do Rio de Janeiro.

Desfile da estação primeira de Mangueira, campeã do carnaval do Rio de Janeiro – Tomaz Silva/Agência Brasil

Priscila Motta, que assinou a coreografia da comissão de frente com o marido Rodrigo Neri, comemorou o campeonato da escola e a nota máxima, na estreia do casal na Mangueira.
 
“[Houve] uma cobrança muito grande para a gente porque, quando fomos convidados para vir para a Mangueira, esperavam que a gente trouxesse para o quesito a nota máxima e ajudasse a escola a ser campeã. A gente conseguiu. Graças a Deus, deu tudo certo. O enredo é lindo e estar na Mangueira é um sonho, uma realização pessoal e profissional”, afirmou Priscila.

Durante o período de preparação da comissão de frente, nasceu Davi, filho dos coreógrafos.

O ator Antônio Pitanga disse que o enredo destacou lideranças de mulheres, negros e índios. “A Mangueira é a única escola que realmente pode revelar e tirar de debaixo do tapete a história real, não a história escrita pelo colonizador”, afirmou. “Somos Marias, somos brasileiras e mangueirenses. É o resultado que a gente tem que mostrar ao Brasil. Lutar e acreditar”, disse a gestora cultural Elisa Santos.

No fim do desfile, a equipe de segurança da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) teve que fazer um cordão de isolamento para conter um verdadeiro bloco que se formou atrás da Mangueira invadindo a pista. Muitas pessoas que estavam nos camarotes, frisas e arquibancadas aderiram à multidão seguindo a verde e rosa.