Uma diferença de R$ 100 milhões na mesa de negociações separa o Banco Fator de tomar o mesmo caminho da maior parte dos bancos de investimento brasileiros e se render de vez ao canto de sereia dos grandes grupos internacionais. Uma proposta de compra feita pela Prudential Securities, braço de corretagem e administração de fundos da mega-seguradora americana, pousou na mesa dos sócios que comandam o banco e não resultou ainda em negócio porque justamente a parte mais importante, a do preço, não está fechada. Os americanos, na proposta, oferecem R$ 100 milhões, mas os sócios e diretores com mais força dentro do banco querem mais. Pedem exatamente o dobro: R$ 200 milhões. A diferença de 100% impressiona, mas não significa um ponto final nas conversas. Das instituições com quem o Fator andou conversando desde o fim do ano passado, nenhuma foi ainda tão longe quanto a Prudential. A negociação continua.

A forma de calcular o preço varia de acordo com o uso que o candidato à compra pretende fazer dos ativos do banco que está em sua mira. O que menos interessa à Prudential é a atividade de banco de investimento, justamente a que a instituição brasileira ostenta com mais visibilidade em sua placa. Em contrapartida, as duas áreas em que o Fator está mais bem posicionado são as duas em que a empresa americana mais quer ter presença no País. A primeira é a de corretagem de valores. A Fator Dória Atherino, corretora do banco, era a vigésima mais ativa da Bolsa de Valores de São Paulo no último ranking divulgado, mas sua colocação melhora se excluídas as corretoras ligadas a grandes bancos, que muitas vezes se limitam a registrar operações do grupo controlador e a fazer operações de graça para clientes de outros serviços do banco. Contados só os independentes, a corretora freqüenta a lista das dez mais ativas do mercado. A outra ponta que interessa à Prudential é a de gestão de recursos. Fundos e carteiras sob a gestão do Fator somam R$ 1,5 bilhão. Não dá para comparar com os US$ 285 bilhões que compõem os ativos da holding americana, mas, para um mercado como o brasileiro, serve de porta de entrada.

Convencer os sócios do Fator a aceitar a hipótese de vender o banco não vai dar muito trabalho. A constante e acelerada queda das taxas nos nichos que o banco disputa, com a entrada de novos e maiores competidores, já fez esse trabalho. Dos sócios do banco, Sylvio Bresser é o mais convencido de que a hora de sair é agora. Francisco Pierotti e Carlos Alberto Barreto também gostam da idéia de vender, mas o presidente do banco, Walter Appel, ainda põe obstáculos e diz que vai querer permanecer no Fator mesmo que o controle mude de mãos. O banco chegou a tentar abrir um caminho novo para se manter rentável, com a criação da Fator Projetos, a área que montou e conduziu privatizações como a do Banespa. Mas esse filão está para se extinguir e, para se tornar um bom negócio, precisa de musculatura para ser convertido em um departamento de fusões corporativas. A Prudential tem tamanho e placa para isso, mas não deu ainda sinais de que vá entrar nesse nicho.