Nesta segunda-feira (19), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia do medicamento proxalutamida no tratamento da covid-19.

Ontem (18), após alta, o presidente Jair Bolsonaro conversou com jornalistas na saída do Hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo e disse que se encontraria com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, hoje para tratar da covid-19 e o uso do medicamento.

No entanto, ainda não há comprovação sobre a eficácia do medicamento no tratamento para a covid e ele não deve ser usado para este fim. A proxalutamida é defendida por Bolsonaro e pessoas próximas a ele desde março.

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Na época, um grupo de pesquisadores havia apresentado dados de um estudo com a proxalutamida feito no Amazonas. Os testes não foram detalhados em artigo científico ou analisados por cientistas independentes, mas o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, fez uma publicação em seu Twitter exaltando os resultados preliminares da pesquisa.

Estudo

A Anvisa informou que o estudo é de fase três, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. A substância será ministrada em participantes ambulatoriais do sexo masculino com covid-19 leve a moderada. O estudo envolve 12 voluntários do estado de Roraima e outros 38 de São Paulo.

O ensaio clínico é patrocinado pela empresa Suzhou Kintor Pharmaceuticals, sediada na China. Além do Brasil, os testes também serão realizados na Alemanha, Argentina, África do Sul, Ucrânia, México e Estados Unidos.

O que é a proxalutamida?

De acordo com a bula, a proxalutamida é um medicamento que impede que células do corpo reconheçam os hormônios andrógenos (masculinos). O fármaco é estudado para ser um completo no tratamento de câncer de próstata e de mama, mas ainda não é aprovado por nenhuma agência reguladora do mundo ou comercializado.

Não há dados sobre o desempenho da droga em laboratório que comprovem o efeito de impedir ou diminuir a replicação da covid-19 no organismo. O medicamento também não tem estudos em modelo animal, que direcionam a tolerância da droga.

Em entrevista ao Estadão Verifica em março, um dos coautores do estudo inicial do medicamento, Carlos Wambier, afirmou que os pesquisadores não confirmam que a proxalutamida seja a cura para a covid-19.

Wambier é professor assistente do Departamento de Dermatologia da Universidade de Brown, nos EUA. Ele falou que ainda são necessárias mais investigações sobre o remédio, inclusive para validar se o mesmo efeito pode ser observado em diferentes populações e com variantes virais.