Barbeiragens cometidas por administradores de fundos se tornaram rotina nos últimos anos. Casos como o do Boavista, que lesou 3 mil clientes de suas aplicações de tarja preta, ou do Banco do Brasil, que perdeu milhões em fundos cambiais com a desvalorização do real, são de tirar o sono de qualquer investidor. Para evitar que tragédias como essas se repitam, o economista Edmar Bacha, presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid), quer instituir um vestibular para quem cuida do dinheiro alheio. A partir do próximo ano haverá um novo sistema de credenciamento para os operadores do mercado. Todos eles terão de passar por uma avaliação, parecida com o Provão com que o Ministério da Educação avalia as instituições de ensino no País. O teste, realizado via Internet, terá 125 questões de múltipla escolha sobre as leis que regem o mercado de capitais e deverá ser respondido em três horas. Aqueles que se recusarem a prestar o teste poderão continuar trabalhando, mas perderão credibilidade.

 

Bacha, que assumiu há um mês a presidência da Anbid, considera que há muitos problemas de transparência na relação entre o investidor e o operador. É comum que este venda papéis que não são adequados ao perfil do cliente. Em alguns casos, o aplicador quer deixar seu dinheiro num fundo de renda fixa, mas uma cláusula em letras miúdas, no pé do contrato, diz que parte do dinheiro poderá ser aplicada em renda variável. Ou seja, há cliente levando gato por lebre. ?Esse tipo de coisa não pode mais acontecer?, diz Bacha. As novas regras foram definidas com base no sistema da National Association of Securities Dealers (Nasd), empresa-mãe da Nasdaq. A diferença é que lá o operador reprovado no teste não pode trabalhar. No Brasil a punição não será tão radical ? quem não passar, simplesmente fica sem diploma. Mas Bacha acredita que isso será suficiente. ?Ninguém confiará seu dinheiro a quem não passou no teste?, afirma.