Duas semanas após o incêndio de grandes proporções que atingiu a região central de Portugal, matando 64 pessoas e deixando mais de 200 feridos, o país procura alternativas para evitar outras tragédias do tipo. A melhor solução chama atenção por sua simplicidade: recuperar a mata nativa da região. Não se trata apenas de plantar árvores. Mas de plantar as árvores certas. Em meio ao caos e à destruição deixados pelas chamas, os portugueses se depararam com sítios e casas que não foram atingidos, mesmo estando no caminho do fogo.

Oásis: em meio à destruição, áreas com árvores folhosas ficaram intactas em Portugal (Crédito:Divulgação)

Acontece que essas propriedades eram cercadas não apenas de eucaliptos e pinheiros, como a grande maioria. Elas possuíam castanheiras, carvalhos e outras árvores autóctones, nativas da região. Foi o caso da Quinta das Mil Flores, estância turística de propriedade da ex-modelo franco-americana Annabelle de La Panouse. Com mais de mil espécies diferentes de plantas em seus jardins, o pequeno empreendimento escapou ileso do fogo. “A Quinta permanece como um oásis verde no meio da desolação das florestas carbonizadas à nossa volta”, afirmou La Panouse, à agência de notícias Lusa.

Segundo especialistas, árvores mais densas e folhosas fornecem uma proteção natural contra o fogo, por diminuírem a temperatura e armazenarem mais umidade no solo. Em Pedrógão Grande, um dos municípios mais atingidos, um ex-técnico do Ministério da Agricultura português, Aires Henriques, cuja propriedade também foi salva graças à presença de árvores folhosas, defende a criação de áreas com vegetação autóctone ao redor das cidades, para preservá-las em caso de novas queimadas. A tragédia portuguesa é mais um exemplo dos riscos de se modificar demais a natureza.

(Nota publicada na Edição 1025 da Revista Dinheiro)