Dezenas de investidores nervosos protestaram nesta terça-feira (14) na porta da sede do grupo imobiliário chinês Evergrande, que admitiu estar sob “tremenda pressão financeira”, embora insista em que evitará uma falência que poderia ser muito prejudicial para a segunda maior economia mundial.

A imobiliária, que tem cotação na Bolsa de Hong Kong, enfrenta uma montanha de obrigações que superam 300 bilhões de dólares após anos de endividamento para financiar um crescimento expressivo.

Na semana passada, duas agências de crédito rebaixaram a nota de classificação da dívida da Evergrande, e o valor das ações retornou ao nível de 2009, entre especulações sobre um possível colapso.

Nesta terça-feira, entre 60 e 70 pessoas protestaram na porta da sede da Evergrande em Shenzen (sudeste da China) para exigir respostas.

A polícia bloqueou o acesso ao edifício. Entre os manifestantes, estavam empreiteiros aos quais Evergrande deve dinheiro, assim como investidores.

“Ao nosso patrão devem 20 milhões de yuanes (3,1 milhões de dólares). E, para muitas pessoas aqui, devem ainda mais”, declarou à AFP um homem que revelou apenas o sobrenome, Chen.

“Estamos realmente muito preocupados. Não há uma explicação clara agora… Eles têm que pagar o dinheiro que devem”, completou.

Em um comunicado enviado à Bolsa de Hong Kong, a Evergrande informa que contratou assessores financeiros para explorar “todas as soluções viáveis” para solucionar a falta de liquidez e adverte que não pode garantir o cumprimento de suas obrigações.

O grupo afirma que “as notícias contínuas na mídia provocaram a contínua deterioração na obtenção de liquidez do grupo que, por sua vez, coloca uma enorme pressão no fluxo de caixa e liquidez” da empresa.

As ações da Evergrande acumulam desvalorização de quase 80% desde o início do ano.

– Um grande desafio para a China –

A Evergrande é uma das maiores empresas privadas da China e uma das líderes internacionais no desenvolvimento imobiliário.

Uma estimativa da Capital Economics indica que a Evergrande estava comprometida com a conclusão de 1,4 milhão de imóveis até o final de junho.

Existe o temor de um contágio no endividado setor imobiliário da China, que representa 25% da economia do país, com efeitos para o setor bancário e os investidores.

“O colapso da Evergrande seria o maior desafio que o sistema financeiro da China enfrentou em anos”, destaca Mark Williams, economista-chefa na Ásia na Capital Economics.

“Os mercados não parecem preocupados diante do potencial de um contágio financeiro no momento, mas isto vai mudar no caso de uma falência em larga escala que provavelmente obrigaria o Banco Central a intervir”, disse Williams.

“O resultado mais provável seria uma reestruturação em que outras empresas assumiriam os projetos por concluir da Evergrande em troca de parte da carteira de propriedades”, acrescentou.

Embora tenha vendido participações em alguns de seus múltiplos ativos e tenha oferecido descontos significativos para de desfazer de imóveis, no primeiro semestre do ano o grupo registou uma queda de 29% no lucro.

Também enfrenta dificuldades para vender seus escritórios em Hong Kong, mesmo com preço reduzido.

No início do mês, a Bloomberg informou que alguns credores pediram ao grupo o reembolso imediato dos empréstimos concedidos.

A Evergrande foi fundada em 1996 por Xu Jiayin, que se tornou o homem mais rico da China durante o boom imobiliário do país nos anos 1990.

Durante os anos, a empresa investiu em grandes projetos em novas cidades e, em 2009, arrecadou 9 bilhões de dólares com sua entrada na Bolsa de Hong Kong.

Um ano depois, o magnata comprou um clube de futebol em dificuldades e mudou o nome para Guangzhou Evergrande. Desde então, a equipe conquistou oito ligas e contratou estrelas como o brasileiro Robinho e o colombiano Jackson Martínez.